terça-feira, 28 de julho de 2020

Da paciência

"O talento molda-se na solidão, já o caráter molda-se na confusão do mundo." 

Gosto muito daquela musiquinha, acho que do Pe. Zezinho, que usamos na catequese com as crianças que diz assim "amar como Jesus, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus sonhou..." Mas assim, na moralzinha, não é fácil não, ainda mais quando a tarefa de amar o próximo envolve... o próximo!

Acontece que as vezes os irmãozinhos da Igreja esquecem que nem todos são pacientes como era Jesus e abusam da boa vontade cristã. É aí que nós temos então de morder a língua, respirar bem fundo e dar as costas ou fechar o whatsapp, antes que a prática da virtude se converta numa prática de assassinato nada cristão. 

Amar o próximo é parte integrante do ser cristão e, creio, deixar o próximo falando sozinho pra não lhe dar umas boas bofetadas exigindo-lhe o mínimo de bom senso que se espera, não de um adulto bem formado mas de um ser humano dotado de alguma parcela de racionalidade, é sim um ato de amor. E quanto me custa ficar calado quando na verdade a vontade que tenho é de simplesmente sair gritando como um louco, obedecendo aos caprichos imediatos da minha vontade. 

São João Paulo II tinha toda razão ao proclamar Santa Teresinha como doutora da Igreja, o seu ensinamento da pequena via, de servir a Deus até mesmo nas menores ações é, definitivamente, tão difícil que só pode ser a coisa certa a se fazer. 

Pode não parecer já que eu não falo muito disso aqui mas passo uma boa parcela dos meus dias, especialmente fins de semana, na paróquia. Já faz alguns anos que me dedico a pastoral com um certo afinco. Talvez seja o estresse causado por essa pandemia, deixando todo mundo ansioso e irritado, que tem me deixado com uma boa impaciência nos últimos meses. Sempre fui muito paciente, até mesmo condescendente em várias situações, mas agora tenho preferido me ausentar a ficar na presença de pessoas que não me acrescentam nada ou, antes disso, ainda contribuem para o meu afastamento das minhas poucas virtudes. Em suma: aguentar a falta de noção e a baita encheção de meu tempo tem sido um suplício. 

Queria muito, muito mesmo, oferecer esse tempo gasto em expiação de meus pecados e sofrer pacientemente como a cruz que devo carregar mas, como disse, eu não sou tão virtuoso assim. As palavras de Santa Teresinha sempre ecoam na minha cabeça, quando ela diz que sua alegria é amar o sofrimento, mas eu também tenho quase certeza que ela aprovaria que eu me afastasse ao invés de gritar com as pessoas e fazer troça delas imitando algum animal mais aprazível as suas faculdades intelectuais. 

Ser cristão não é fácil, viver na igreja também não e fazer isso da forma correta é ainda mais complicado. Consigo entender melhor aqueles que deixaram o barulho das grandes cidades para viver no silêncio dos mosteiros ou reclusos como anacoretas. Sim, minha vontade era de me enfiar numa roupa de saco e ir pra uma montanha bem longe de todo mundo, mas eu bem sei que não sobreviveria nem por três dias inteiros, então exercitar a paciência na confusão do mundo é o que tem pra hoje né?

"Dá-me paciência, porque se me der força eu vou bater em alguém!"

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