sexta-feira, 10 de julho de 2020

Tudo mudou

Durante uma chamada do telejornal eu me vi pensando no quanto as coisas mudaram nos últimos tempos. Desde que a pandemia começou, em Wuhan, nos primeiros meses do ano, nós aqui do outro lado do mundo aos pouco sentíamos que uma grande onda destrutiva vinha em nossa direção. Enquanto na Ásia a China enfrentava uma crise sem precedentes, na Europa a Itália aprendeu à duras penas o quanto um vírus letal podia transformar a vida do país. Não demorou e os corpos começaram a ser carregados dentro de caminhões e enterrados em valas comuns, as administrações incapazes de dar sepultura digna a todos.

Após o carnaval os primeiros casos começaram a surgir no país, e duas ou três semanas depois do primeiro caso as coisas começavam a mudar. Muitos passaram a adotar os isolamento social sugerido pelo Ministério da Saúde e a OMS. De um dia para o outro passamos a ficar dentro de casa, saindo apenas para aquilo que fosse absolutamente essencial. Em alguns estados os números de infectados cresceram vertiginosamente, aumentando o medo e a apreensão. A ansiedade tomou conta de todos. 

Agora, meses depois da chegada do vírus em terras brasileiras as empresas não voltaram ao pleno funcionamento, mas a própria população decidiu não mais ficar em casa. Muitos fingem não estar acontecendo nada. Outros, por outro lado, ainda se preocupam consigo e com todos os seus. Agora saímos nas ruas usando máscaras. As lojas estão abertas em horários diferentes, e com apenas um pouco da sua capacidade. 

O que mais me impactou foi a mudança na Igreja. De imediato todas as paróquias foram fechadas por decretos episcopais distribuídos em todas as dioceses. As missas passaram a ser transmitidas online, e as igrejas completamente vazias. O choque foi grande, eu me recordo de ter chorado no primeiro dia, ao ver o salão ao qual estou tão habituado a ver cheio, sem ninguém. 

Agora que as missas públicas voltaram a ser autorizadas o cenário ainda é diferente. Bancos mais vazios e todos usando máscaras. Eu, que me sento no presbitério ao lado do padre, me incomodo muito em ver aquela cena que mais se parece com algo saindo de um filme sobre armas biológicas e conspirações internacionais de controle populacional. 

A economia mundial se viu combalida, enquanto outros setores cresceram, surfando na onda do coronavírus, como as empresas farmacêuticas, os youtubers responsáveis pela distração daqueles que estão em casa, e qualquer outra área essencial para a sobrevivência à pandemia. Outras simplesmente faliram, migraram para outros ramos. As estreias no cinema foram suspensas, séries e novelas paralisadas e outras criadas num novo formato, se nossas comunicações passaram a ser online, a dos personagens também. Muitos serviços que antes eram presenciais passaram a ser realizados online também, com isso aprendemos na marra que muita coisa podia ser simplificada nas nossas vidas, evitando deslocamentos e aglomerações. 

A política está um caos, como se todos puxassem uma mesma corda em direções opostas. Muitos presos por usarem o dinheiro que deveria ser aplicado no controle da pandemia de forma indevida. Demissões, renúncias, nomeações escandalosas e até mesmo chefes de estado contaminados. 

Aqueles que já tinham ansiedade ou depressão se viram numa péssima situação, com a saúde mental se desfazendo no convívio familiar forçado, no sufoco do isolamento. Quem não tinha acabou desenvolvendo. Todos nervosos, ansiosos, crises de pânico para todo lado, semblantes abatidos... Tudo mudou.  

Agora esperamos pela volta da normalidade, se é que as coisas voltarão a ser como eram antes. Talvez as máscaras tenham vindo pra ficar, talvez nunca mais sejamos autorizados a ficar em grandes multidões ou, pode ser que aconteça, nos acostumemos as mortes constantes de pessoas próximas e ao colapso do sistema de saúde. O homem é limitado em perceber aquilo que é diferente, de uma forma ou de outra normalizaremos a situação. 

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