sexta-feira, 10 de julho de 2020

Mais nada

Preso em meio à uma estranhíssima dicotomia. Por um lado me sinto extremamente sensível, chateado com tudo e todos, num permanente vontade de chorar sem motivo, com uma tristeza a me dominar. Por outro lado sinto apenas uma letargia, um grande vazio, um nada que me preenche, um abismo que me consome apodrecendo tudo o que há aqui dentro. 

Acho que olhei muito tempo para o abismo, pois agora ele não só olha para mim como me segura com suas garras, rasgando a minha carne com suas presas, me levando para a profunda escuridão do seu coração. Me sinto só, mas não quero ninguém por perto. Não quero ficar sozinho, mas não quero que me roubem a solidão sem antes me oferecerem verdadeira companhia. 

Mas a verdade é que não sei o que eu quero. Não sei nem o que estou dizendo aqui, senão que meus dedos imprimem nestas páginas apenas aquilo que brota sem controle de dentro de mim. Essas palavras são a única coisa que sobrou. Se olhar bem fundo dentro de mim, não encontrará mais nada. 

Tenho dormido mais do que o normal, apelado para os remédios, uma fuga. Eu acordo e vejo a luz do sol, o início de um novo dia, de um dia terrível. A noite vem e eu sinto uma profunda tristeza se apossando de mim. É sexta, e eu não quero sair, não quero conversar ou sorrir, tampouco quero voltar a dormir, o que eu quero é voltar ao nada, voltar a inexistência. 

E eu nem sequer sei o que está acontecendo. Eu não sei de onde vem essa tristeza. Eu não sei. Eu não sei. Eu não sei mais nada. Não sei o que quero, não sei o que fazer, não sei o que será de mim? Todo dia eu acho que vai ser o último, todo eu acho que só vou precisar aguentar mais um, mas nunca é o último, nunca termina, sempre tem mais um, e mais um, e mais um... 

E ninguém sabe quem eu sou de verdade, e talvez eles só não deem a mínima pra essa porcaria toda. Talvez estejam todos perdido e só saibam fingir melhor do que eu. Mas eu só consigo chorar, chorar e me arrastar por aí... Mas nem eu sei quem eu sou ou o que eu quero, como posso querer que os outros saibam? Acho que no fundo eu espero que me digam quem eu sou, mas isso também não vai acontecer. E então eu fico aqui, esperando o fim, por mais um dia, mais um dia terrível, mais um dia sem fim. 

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