Tensões. Uma existência constituída de contradições intrínsecas ao meu ser. Preto, branco, cinza, as cores do arc en ciel. Misturadas, combinadas em infinitas possibilidades. Há elementos que eu coletei com o tempo, traços, gostos, manias daqueles que me rodeavam. Elementos que nasceram comigo, que não os escolhi, e que a todo momento me fazer ter reações e ver as coisas de um modo que eu não esperava. Há coisas em mim que ainda não reconheço, mas admitir as tensões da existência, sem escondê-las e sem fugir, é o que faço para me reconhecer.
Ficar de frente ao espelho de agora, e não reconhecer o que vejo na foto passada, não lembrar das coisas pequenas que antes me prendiam as pequenas concepções. Sem grandes impressões, sem furor, olhar realista sobre a existência trágica, finita e fria da vida de cada um. Diminuindo as decepções, sem esperar nada da vida além de dor e sofrimento e, no entanto, se alguma alegria me for dada, saber reconhecer que não há de durar para sempre. Como a juventude não dura, como os sonhos não duram, como as amizades e os amores não duram. Como os fogos de artifício que estouram e iluminam os céus por um instante mas logo dão lugar a escuridão novamente.
Mesmo uma canção, mesmo os adágios e árias mais belos límpidos tem seu fim, seja uma derradeira coda ou desaparecendo lentamente, como o sol no horizonte ao se pôr todos os dias.
Queria, por outro lado, dizer que isso é algo anormal, que me sentir assim, tomado de constante desesperança, é coisa que se abate sobre mim raramente ou que é resultado de algum fator externo, mas não. Isso já se tornou quem sou e como sou, não alguém capaz de sonhar e se impressionar, apenas alguém que perdeu até mesmo a capacidade de se deixar cegar pela luz do sol, vendo apenas o mundo por uma lente sem brilho algum. A melancolia se tornou parte inseparável de mim e o olhar cético para o homem também. Aliás, a visão do homem hoje me cansa, me ver no espelho me cansa, estou cansado do homem.
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