terça-feira, 14 de julho de 2020

Hanabi

Tensões. Uma existência constituída de contradições intrínsecas ao meu ser. Preto, branco, cinza, as cores do arc en ciel. Misturadas, combinadas em infinitas possibilidades. Há elementos que eu coletei com o tempo, traços, gostos, manias daqueles que me rodeavam. Elementos que nasceram comigo, que não os escolhi, e que a todo momento me fazer ter reações e ver as coisas de um modo que eu não esperava. Há coisas em mim que ainda não reconheço, mas admitir as tensões da existência, sem escondê-las e sem fugir, é o que faço para me reconhecer. 

Ficar de frente ao espelho de agora, e não reconhecer o que vejo na foto passada, não lembrar das coisas pequenas que antes me prendiam as pequenas concepções. Sem grandes impressões, sem furor, olhar realista sobre a existência trágica, finita e fria da vida de cada um. Diminuindo as decepções, sem esperar nada da vida além de dor e sofrimento e, no entanto, se alguma alegria me for dada, saber reconhecer que não há de durar para sempre. Como a juventude não dura, como os sonhos não duram, como as amizades e os amores não duram. Como os fogos de artifício que estouram e iluminam os céus por um instante mas logo dão lugar a escuridão novamente. 

Mesmo uma canção, mesmo os adágios e árias mais belos límpidos tem seu fim, seja uma derradeira coda ou desaparecendo lentamente, como o sol no horizonte ao se pôr todos os dias. 

Queria, por outro lado, dizer que isso é algo anormal, que me sentir assim, tomado de constante desesperança, é coisa que se abate sobre mim raramente ou que é resultado de algum fator externo, mas não. Isso já se tornou quem sou e como sou, não alguém capaz de sonhar e se impressionar, apenas alguém que perdeu até mesmo a capacidade de se deixar cegar pela luz do sol, vendo apenas o mundo por uma lente sem brilho algum. A melancolia se tornou parte inseparável de mim e o olhar cético para o homem também. Aliás, a visão do homem hoje me cansa, me ver no espelho me cansa, estou cansado do homem. 

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