sexta-feira, 24 de julho de 2020

Inveja

E eu que não pensava um dia ser tomado de súbito pela inveja. De repente me vi alimentando esse sentimento, tão baixo e tão vil, típico de quem nada realizou e inveja o sucesso do outro. Vejo o quanto me rebaixei e vejo o quanto me tornei mesquinho, ao lugar de me fazer feliz pelas conquistas e vitórias do próximo. Vejo um lado meu que não sabia que existia, estava tão escondido dentro de mim que custei a vê-lo. Não sei desde quando está aqui, ou o quanto já se alimentou de mim, mas vejo que está aqui e com raízes profundas. 

Vejo como se relaciona a inveja com a ganância, a inveja por querer ter aquilo que o outro tem e a ganância por desejar para si tudo. Me vejo preso pelo desejo, torpe e maligno, suspirado em meus ouvidos por um daqueles diabos de C.S. Lewis, daquilo que o outro conquistou, sem sequer precisar de mim. 

E eu que me julgava importante, que me julgava participe do sucesso do outro, vi que na contribui, que não sou mais do que um transeunte em sua vida, sem que nada deva a mim. E olhe lá, colhe agora louros de sucesso, recebendo por onde quer que passe reconhecimento, aplausos e sorrisos condescendentes. 

Eu, por outro lado, continuo no ostracismo. Embora já tenha feito muito ora, quantas palavras já não escrevi, quanto de mim já não derramei por entre páginas e mais páginas, sem nunca receber um reconhecimento? Sem quase não receber senão elogios esparsos que em nada contribuíram senão para alimentarem o meu ego medíocre. Pensava ser grande, mas era apenas um grão de poeira voando sem direção. 

E a inveja, revelada incrustada em meu ser, ora que surpresa, me mostra ainda mais baixo do que supunha. Vejo que nada fiz, nada realizei, não coleciono outra coisa senão inúmeros fracassos, dentre os quais o ser é o maior deles. Não é como se fracasse aqui ou ali, pelo contrário, minha própria existência é em si um erro mesmo,. Um arremedo de homem, um projeto nunca realizado, uma potencialidade apenas. 

Quanto esforço desperdiçado, quantas palavras ditas em vão, quantas lágrimas derramadas sem que ninguém as aparasse. Choro então no silêncio e na escuridão, desconhecido, como tantos outros espíritos anônimos que só podem viver sob a sombra dos grandes feitos dos espíritos heroicos, dos grandes nomes, daqueles que muito fizeram ou, que simplesmente foram reconhecidos pelo que fizeram. 

Me vejo então desejando isso, o reconhecimento. E como me sinto baixo por isso! Desejo o reconhecimento de pessoas medíocres também, desejo ser reconhecido por tantos outros iguais a mim e, não sendo mais do que sou, me vejo sendo menos do que todos, menor do que eles. De que me adiantaria ser reconhecido, não sei, talvez a presença de muitos possam me dar a ideia de preenchimento do vazio, é pode ser, mas ainda assim não torna menos patética a revelação da inveja presente em mim, rastejando como um inseto insignificante, desejando ser como aqueles que me pisoteiam e me insultam com cusparadas ou, pior ainda, que passam sem sequer perceber a minha presença. Serei condenado então aquele local do Inferno de Dante, onde os invejosos tem como punição os olhos costurados, assim não podendo mais ver o que tanto desejaram tomar dos outros.

Observo como todos os pecados, capitais, estão presentes em mim. Desejando o que é do outro, desejando mais do que me é de direito, me entregando aos prazeres e deixando-me levar pelas paixões. É essa a tensão com que tenho que viver? 

"Os Humanos são realmente patéticos,dignos de pena."

Nenhum comentário:

Postar um comentário