sábado, 18 de julho de 2020

Melted

Antes de começar a ler: Recomendo que veja o MV em questão, antes e depois, da leitura, para que a experiência seja a mais próxima possível da que tive. Chorei várias vezes assistindo-o, desde o lançamento, e espero que seja um bom começo de reflexão para outros, como foi para mim. Boa experiência!

Akdong Musician (AKMU) - Melted

Um jovem registra pela lente de suas câmeras o que ele vê ao seu redor. Tenta chegar a algum lugar, pega uma carona e se diverte tirando fotos de tudo o que vê, a paisagem lá fora por entre os vidros do carro, as caixas do homem que parece se mudar, estressado e infeliz com sua vida, talvez tentando recomeçar, como ele, mas sem a esperança que o jovem guarda consigo.

E ele continua registrando tudo: a dificuldade das pessoas que tentam, de algum modo, ganhar a vida, sob o sol forte de um dia quente. A dificuldade das pessoas em se entenderem, gritando em meio ao barulho da cidade. 

Mas mesmo assim, no meio de tanto caos ainda há beleza. Mesmo por detrás de uma cortina de lágrimas ainda há algo a ser visto e considerado belo. Essa beleza o leva a outros lugares, uma noite num bar animado. As pessoas bebem, flertam, enquanto outros lamentam o azar de estar ali, servindo aqueles devassos que nada mais fazem do que rir e gritam, como animais. 

Ele é logo esquecido, como algo sem importância alguma, e tenta ir atrás das pessoas que se foram sabe-se lá para onde. Ele é maltratado, deixado sozinho, sangrando e busca ajuda, mas nem a polícia enxerga aquele pequeno, que só queria ver o mundo pelas lentes de sua câmera. 

Why, they're so cold?

No fim, quando se aproxima de um cachorro ele tenta brincar com o animal, que de pronto o rejeita com latidos ferozes. Será que nem mesmo os animais o querem por perto? Ele é assim tão desprezível que sequer merece os afagos de um cão que dormia do lado de fora de um trailer no alto de uma colina longe da cidade? 

Alguém abre a porta, um homem alto e aparência dura, com uma grande barra de ferro na mão. Veio ver o que fez seu cachorro latir tão alto. É o seu fim, ali, machucado, abandonado, e depois de ter enfurecido um homem com uma arma na mão. 

Mas o gelo que há no coração de tantos uma hora se desfaz, derrete. Ali, no último lugar em que esperava, ele vê doces olhos que o ajudam, lhe dão de comer. No último lugar encontrou aquilo que procurava, e não registrou pelas lentes da câmera, senão que apenas com o olhar, lembrando-se do seu passado agora, tantas décadas depois, do alto de um grande e luxuoso prédio. Olha, para baixo, o gelo do whisky derretido, como o coração daquele homem, que lhe deu um novo começo. 

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