sábado, 24 de junho de 2023

Aforismos

Venho enfrentando quatro dias de uma crise de alergia que parece não ter fim. Cheguei a perder um dia de trabalho na semana passada e não consegui descansar nada no fim de semana que se seguiu. Hoje, voltando a rotina normal, estou exausto. Até me sentei pra escrever mas as distrações do trabalho fizeram tudo ruir... Droga! Minha atenção está mínima, e ainda tenho um monte de coisa pra fazer, quando minha única necessidade era ficar uns três dias dormindo direto. 

Preciso de um café bem forte, e quem sabe dormir um pouco. Em vão, eu não vou poder fazer isso tão cedo... 

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Foi uma tarde cruelmente difícil, e surpreendentemente eu consegui tudo que pretendia, organizando e adiantando alguns trabalhos mas, por fim, acabei me deitando num sofá na minha sala e apenas de olhos fechados, me concentrei nas dores que sentia no corpo todo, em como estava enjoado e muito tonto e como as cores estavam manchando na minha visão. Queria, mais do que tudo, sair e dormir.

Felizmente eu consegui chegar em casa mais cedo do que esperava, e um banho quente me ajudou a relaxar, assim como um copo de leite e um relaxante muscular antes de deitar. Consegui dormir e descansar ao menos um pouco. Vou dar três palestras hoje e amanhã mas, pelo menos, estou bem mais disposto do que ontem. Não sei se é um episódio misto ou resultado dos muitos remédios que andei tomando, alguns com cafeína porque antialérgico costuma dar bastante sono, mas eu me sinto estranhamente revigorado. 

Revigorado também está meu pessimismo e, embora eu esteja fisicamente disposto, eu continuo olhando pra tudo ao meu redor com ceticismo brutal, não esperando nada de bom, nada mesmo, e talvez por isso eu consiga aproveitar ainda algumas coisas, como uma caneca de chocolate quente ou uma música nova... Coisas assim. De resto, nem os homens bonitos das ruas despertam mais a minha atenção. Apenas olho por um ou dois segundos e só... Não há poesia em mais nada. 

Até tive um encontro com um cara esses dias e, embora ele seja muito simpático e um completo fofo, eu não consegui sentir nada. Eu poderia, durante o beijo, virar os olhos para o mar e simplesmente ficar ali olhando aquele imenso cinza. Aqui dentro também é tudo cinza. 

Os versos da música da Roberta Campos são aqui bem ilustrativos:

"Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que nem vejo à minha frente
Nada que me dê prazer
Sinto cada vez mais longe a felicidade
Vendo em minha mocidade
Tanto sonho perecer..."

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Disse a você esses dias que, em alguns momentos, sentia meu coração inflamar assim de repente, e me vinha uma vontade incontrolável de dizer que te amo. É um ímpeto, vem assim, do nada. Geralmente acontece no meio da manhã, se fecho os olhos rapidamente ou até mesmo enquanto converso com alguém... Meu peito se enche e eu sinto a respiração falhar, e tudo de repente se torna amor, só amor, numa ânsia infinita que vem como uma onda, impossível de se parar. Você disse que me entendia, mas eu sei que seu peito se enche de amor por ela, por outra... 

2 comentários:

  1. Entediada de Lya Luft, resolvi fazer uma maratona de tudo que não li. E pelo visto o conteúdo se encaixa neste texto también

    Ânsias inflamadas... Sou filha de Nietzsche e Lacan, a linguagem é meu principal alvo, tanto pela filologia de Nietzsche, tanto pela psicanálise da linguagem lacaniana. É evidente que cada pessoa possui seu próprio ''maneirismo'' linguístico, cada um com sua palavra ou expressão predileta que usa sem limite. Eu gosto de ''evidente'', uso muito, e caso alguém pinte de psicanalista lacaniano pra cima de mim, poderia facilmente deduzir que a digo tanto pela necessidade de falar mais ''diplomaticamente'', e pois tenho autonomia em tudo que falo, logo, acredito que falo apenas obviedades (pode até não ser a teórica, mas sou PhD em divagação, vou de Goethe a Racionais rapidamente). Assim, tenho o hábito de selecionar frangalhos linguísticos que apitam no meu farol; ânsias inflamadas já tinha me chamado atenção, mas a repetição dela?!(agora novamente) Ela é um tipo de expressão utilizada apenas na escrita (para dar lirismo), ou em pontos finais de conversas (para causar um ''Uau'', ou querer dar uma de poeta no séc xxi, que é equivalente a ser um ''bobão''). Enfim, ânsias inflamadas na MINHA hermenêutica : FATOR DE FORMAÇÃO: Uso de palavras relativamente rebuscadas para um lirismo e aparição da ''erudição'', fatos que tornam-se evidentes quando se tem uma leitura de textos produzidos por tal. FATOR DE USO: Por histórico, é evidente que seu ''amor'' só pode ser resumido a : Ardência , que é exacerbada e dolorosa ao mesmo tempo, arde no âmago da alma , e expressa-se no cotidiano, pois não se consegue viver com ardências (pelo menos uma vida OK). Precisa-se interpretar o tipo de ardência, se é 1) prazerosa ou 2) dolorosa, aplica-se a 2, o caso 1 é apenas em relações baseadas, principalmente, em prazer, mas que são facilmente desmontadas (pois não possuem pilares reais como: companheirismo, amizade, amor etc) , e evidentemente, dolorosas a longo prazo ( longo prazo pois normalmente não são duradouras, logo, atuam com ''drogas'', uma vez que se transformam em dor por causa da perca de seu prazer instantâneo - parceiro).
    Enfim , amar é uma consequência de estar vivo, que culpa temos de seguirmos a natureza humana? (seja ela dolorosa ou não). O coração é ilógico! Eu não escolheria gostar mais que o normal do aperol da giostri só pelo fato do atendente ser um T, eu NÃO escolhi! gasto 29 reais em UM aperol pois o coração manda, e quem tem juízo, obedece!
    ps: entendo inflamada como em chamas, principalmente pela frase ser ''em noite escura de amor em vivas ânsias inflamada. '', sendo as ânsias a única luz em uma noite de amor, não sei! entenda-me como quiser.
    ps2: Vou sempre (quando da) ao JM, quando achar que estou ai, pode me encarar por dois segundos, que eu provavelmente vou me desmanchar no riso (não sei mentir ou omitir), ai marcamos algo mega pseudo intelectual que envolva vinho ou aperol.

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  2. Também gosto muito de Nietzsche, aliás tenho um livro de citações nele na cabeceira da cama, acho de uma potência inspiradora incrível.

    A expressão "em uma noite escura, de amor em vivas ânsias inflamada" é o inicio do poema Noite Escura do espanhol João da Cruz, um dos meus escritores favoritos também, e eu vou de João da Cruz, um santo com escrita simbólica, até o velho Buck, e provavelmente os dois sairiam na porrada se chegassem a se conhecer, e eu amo isso! Gosto da força dessas palavras justamente pelas questões que você apontou, sobre as quais eu já falei até não poder mais, elas me tocaram desde a primeira vez que as li e até hoje eu encontro eco delas nas minhas paixões kkkk Mas ainda vou além, elas contém uma série de camadas interpretativas que o próprio autor escreveu dois livros para explicar o poema e não terminou nenhum dos dois, e quando eu digo isso eu trago em mim o que você explicou e também as explicações dele, assim como a do amigo que me apresentou essa obra uns anos atrás.

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