sexta-feira, 16 de junho de 2023

Grande fluxo

Uma corrente elétrica passa pelos meus braços e pernas, explode em minhas costas. Meus olhos se movimentam rápido, pensamentos mil, dois mil, dou duas voltas na terra em meio segundo, fiz todo o trabalho que tinha para fazer na semana, torno a olhar o relógio e ainda não deu a hora de voltar pra casa. 

Não gosto de me sentir assim porque esse excesso de produtividade faz com que as pessoas sempre esperem isso de mim, que sempre esperem essa explosão. 

Certa vez ouvi de uma pessoa que também passava pelo Transtorno Bipolar que ela poderia ser inútil durante a fase depressiva porque compensava sendo genial durante todo o resto do tempo. Eu não sou genial mas sou produtivo e isso cai por terra durante os episódios negativos. 

Uma corrente elétrica passa pelos meus braços e pernas, explode em minhas costas. Yoruichi Shihouin diria ser o princípio de Shunko, o que seria ótimo se não fosse apenas trágico o fato de que isso me torna, em real, uma pessoa instável, muitas vezes maluco, completamente desequilibrado. 

O resultado não é fazer de mim um filho da deusa relâmpago, mas, é uma perna inquieta permanentemente, uma dor no peito e uma ansiedade crescente, junto de uma leve irritabilidade. Acho que estou morrendo, seria até um alento na verdade, nada mais de paixões não correspondidas e nem a participação em liturgias horrendas e disformes, somente o sono eterno na frialdade da terra. Até mesmo a poesia se aventura demasiado exagerada nesses dias. 

Eu entendo sua confusão minha mãe, também pensava que tudo se resolveria na labuta diária. Mas as flores não se abriram em abril, a neve não derreteu, os amores não vieram... E então o que mais posso fazer senão sacrificar meu corpo em sagração pela primavera, dançando até cair de exaustão, oblata maculada?

Que Eça de Queiroz, dos ermos túmulos dos grandes escritores da língua portuguesa, me perdoe por tomar de paráfrase a descrição de um de seus personagens como a minha própria. É que ao falar daquele homem ele descreve a mim com mais clareza do que eu mesmo poderia:

Muito inteligente, é o que dizem, estudo desesperadamente, mas, como também o digo, sou uma tumba. Quase aos 30 anos, pobre, com dívidas, já estou farto de morar na casa de meus pais como um verme incapaz, das minhas roupas de segunda mão e, nessa mediocridade, vejo os outros, os mesquinhos, de vida superficial, subir até a prosperidade. Bom, por perceber isso, ando cada vez mais amuado com a vida, cada dia me prolongando mais em silêncios e me incomodando profundamente com o vozerio feliz e desesperado dos tolos.

E então dói algo que aos outros parece completamente comum: o incessante fluxo de informações. Essa torrente estupenda que cascateia como se jamais fosse ter fim. E é absurdo saber que muitas vezes eu sou como as estações que, em alguns meses seca essa cascata, como em outros abunda infinitamente. Preciso, nesse momento, do silêncio e da escassez do deserto. A turba me envolve e me engole, mas ela também machuca porque a sensibilidade continua sendo atacada por todos os lados, ainda que a excitação a encubra. Eu queria, na verdade, não saber e nem mesmo perceber, que eu sou apenas sozinho, fracassado e desequilibrado. 

Nesse momento mesmo eu estou no meio de uma grande confusão mental por causa de um episódio de mania anormalmente grande, que já vai para três semanas, e eu estou ficando maluco com isso, com um fluxo horrendo de pensamentos que chegam a me deixar enjoado. 

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