sexta-feira, 23 de junho de 2023

Atentado

O que aconteceu com a Igreja no Brasil é lastimável, sério, e a cada domingo eu sinto isso cada vez mais.

Existem alguns grupos católicos mais fiéis a Tradição e que normalmente mostram suas celebrações, sóbrias, dignas, belas, cheias de zelo. E então comparamos com as nossas celebrações cotidianas: a música brega estourada, a falta de organização, o excesso de decorações afetadas e coloridas, apelos sentimentalistas e vazios nas homilias... As pessoas enfiam tanta coisa na liturgia que ela se torna uma festinha piegas, uma série de homenagens, de momentos kitsch e é só isso. 

Se cantam alguma coisa as pessoas já começam a bater palmas, ninguém entende a sacralidade do momento e ninguém, tenho certeza, reza abanando os braços numa música música de tradução duvidosa e ritmo exagerado, além de voz estridente. 

O mesmo vale para a nossa arquitetura. Durante séculos as igrejas foram o centro da vida da cidade, os sinos ditavam as horas do trabalho e as celebrações eram ditadas pelo ritmo das estações, tudo buscando refletir o máximo da ordem e da harmonia. Todos se reuniam para rezar na época do plantio e depois na colheita, para agradecer. Nos países mais frios todos rezavam e acendia inúmeras velas pedindo a volta do calor, e o sol era símbolo do Cristo ressuscitado. Se o sol trazia nova vida a comunidade Cristo trazia vida eterna aos cristãos. Hoje nossas igrejas são caixas vazias, as imagens foram diminuindo, as velas diminuindo, as cores diminuindo ou perdendo a força simbólica, a cruz foi ficado menor e não mais ocupa o lugar mais alto do altar. Não há duas paróquias no mesmo bairro que alguém diria ser uma igreja, mas prédios de péssimo gosto arquitetônico. 

Aonde foram parar as torres, o formato românico ou gótico, os sinos, os retábulos, o sacrário no centro? 

Mas o homem fala cada vez mais, e a posição de todos é fechada em si, não há abertura ao Divino. Aqueles que, com boa vontade se aproximam do altar com devoção são bombardeados com informações de cunho social e político, com anúncios de virtudes que ninguém sabe mais o que são e intermináveis avisos sobre eventos que ninguém sabe o que é e cujas inscrições são feitas com alguém que eles também não conhecem. 

É um verdadeiro show de horrores. E então se olhamos aquelas belas celebrações, como no Vaticano ou lugares com o Instituto Bom Pastor, e vemos a beleza das igrejas, dos paramentos, da música sóbria, do silêncio e da profundidade das homilias, repletas de séculos de tradição patrística e escolástica que realmente nutrem a alma dos fiéis. 

Precisamos voltar! Não ao mero formalismo estético, mas a uma verdadeira aceitação da Tradição que nos foi deixada. As músicas que nossos antepassados cantaram, as vestes que eles usaram e a dedicação em estudar e rezar, todo tempo, em toda circunstância, rumo a uma vida mais santa. 

5 comentários:

  1. Hahaha, li o texto pensando em um gajo que vivia dando mole pra mim, mas que eu nunca cedi por ter princípios estruturados em : não gostar de Olavo de Carvalho (ele amava) , e ser minimamente situada em meu contemporâneo (ele vivia falando que era um soldado grego (ele era gostoso) e que o mundo não era como antes (medieval. Quem gostaria disso?) .) Lembrada disso, tive alguns pensamentos que vivia tendo quando via algo deste gajo.
    O desejo de querer voltar (ou andar) no tempo, vem , obviamente, de uma não afirmação com sua própria temporalidade, seja pelos costumes, hábitos ou pensamentos que acercam a época. Quando se tem essa vontade de retroceder, mesmo que em apenas um âmbito da vida, é a expressão da insatisfação da situação por algum motivo (no seu caso, a estética ) . Tendo isso em vista , começa-se essa fala de “ não é mais como antes”, como se o passado ainda pudesse ser aplicado em uma sociedade diferente da passada. No que diz respeito a “nova” estética católica, de edifícios feios e não agradáveis visualmente, é apenas a expressão de nossa própria época, e no que ela diz respeito a religiosidade contemporânea. Antigamente, o clero possuía uma grandíssima influência na sociedade e um grande poder aquisitivo (pois se formava, principalmente, por ricos e riquinhos) , o que tornava possível as belas edificações, estátuas de ouro & toda essa ladainha estética. Infelizmente (ou felizmente), o catolicismo deu uma banalizada, entendeu-se em todas as classes, e tornou o acesso litúrgico mais fácil, diferenciando-se da época de “ouro” da igreja católica.
    Desta forma, entendo que a religião contemporânea pode não ter um visual ou musicalidade tão “legal” como antes, mas essas diferenças provém , principalmente, do acesso geral facilitado que se tem da religião atualmente . Afinal, que importa se cânticos ou estátuas não são tão bonitos como antes, o que importa , que é a palavra sagrada , no final , nunca muda ( e isso deveria ser o mais importante).
    De qualquer forma, não sou batizada nem nada, mas acredito que qualquer crítica ao contemporâneo mereça ser respondida.
    Ps: um pedido! ( já posso fazer isso? Fiquei um tempo ausente (motivo: dor nas costas após pintar painel de 4,5m motivada pelo ócio no trabalho.) mas acredito que qualquer questionamento seja bem vindo. Li o texto do “Discurso… “, motivada pelo amor ao debate sobre discurso (conceito), e encuquei-me sobre algo. Você discorre bastante sobre essa questão de “ seguir os grandes mestres, obras etc”, e gostaria de saber o motivo pelo qual os caracteriza como a “boa literatura” e padrão a ser seguido. Questiono-te sobre “ por que seguir os grandes mestres”, por que precisar seguir algo, e não decorrer de algo genuíno do espírito ( não entenda como “não os ler” , mas como não os pegar de norte). Resumindo , por que os seguir, e por que lhes foram atribuídos o papel de educador/mestre.

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    1. Bom, me parece que só há uma confusão quanto aos termos que eu uso: os grandes mestres são exatamente os que são genuínos e pela força conseguem ensinar isso. Coloco-os como mestre justamente porque reconheço a limitação de uma única mente e, se temos séculos de pessoas que disseram coisas que podem nos ensinar, não vejo razão para não tê-los como mestres. Cada um em sua área, seja na filosofia ou na literatura, dá pra aprender algo com eles, ainda que seja aprender como não ser, aprender o que não se deve fazer.

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    2. Acho que vou colocar Olavo de Carvalho como mestre (do que não se fazer.)
      Adendo ao “ se temos séculos de pessoas que disseram coisas que podem nos ensinar, não vejo razão para não tê-los como mestres”
      Não seria possível ter , aproveitando o gancho, mano Brown como mestre ? É preciso de um lapso temporal para se considerar tal?
      Minha pergunta é , antes de tudo, o que caracteriza o mestre e sua palavra?
      Você diz “ dá pra aprender algo com eles, ainda que seja aprender como não ser, aprender o que não se deve fazer.”, mas isso não se encontraria na palavra de qualquer pessoa? É preciso de um punhado de boas palavras para ser um mestre?
      Veja, é esse o questionamento que faço, justamente pelo gancho da temporalidade. Por que figuras centenárias são atreladas a boa educação e algo a se aprender?
      Por que há vinculação temporal ao nível intelectual, como os livros antigos sendo mais eruditos, e os contemporâneos fúteis . Não me entenda mal, olho torto para qualquer best seller da livrarias Curitiba, mas tenho o (mau) hábito de questionar até o que gosto. Assim, mestre é aquele que tem 100 anos na conta, ou aquele que tem conhecimento a se passar? E, que mestres são esses que ensinam genuinamente? Grandes mestres ensinam para aqueles que sabem os ler, com seu vocabulário rebuscado e seu pensamento não muito atual. De qualquer forma, é um questionamento sobre elitismo cultural, o tratamento envolto a elite intelectual e o “será mesmo” para as figuras centenárias que nem são tudo isso, mas que tem a importância de seu pensamento hiperbolizado pela elite ( adendo a um quê de arcaísmo).
      Enfim, sou apenas faladora (sofista nata); mando todo mundo calar a boca e ler Werther antes de falar comigo, e jogar fora todo esse lixo contemporâneo que chamam de “literatura “ (você já viu algum livro relevante ter ABREVIAÇÃO e conversa de WHATSAPP ???!!!?? Eu nunca vi e tenho asco a livros assim ( entra os leitores e autores também). Viva meu racionais mcs, 3b’s e Virgínia Woolf; em toda época há exceção a regra

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  2. Acho que o problema é apenas uma confusão de termos mesmo. Esses textos são uma versão reformulada de conversas que tenho com alguns alunos de Educação Clássica e, sendo esse o objeto de nosso estudo essa é a forma como nos referimos aos autores clássicos. Num âmbito mais geral temos então a validação do tempo como um dos critérios de julgamento, e concordo que nem tudo que tenha mais de cem anos seja bom apenas por isso, mas o fato de ter durado mais de cem anos talvez seja meritório de alguma atenção. Dito isso começar pelo que já está está consagrado pelo tempo é uma forma de começar, e daí passar adiante. Note bem: um dos critérios, mas não o único. A minha abordagem com meus alunos é exatamente a de buscar o melhor sempre, e para conseguir isso se começa com o clássico, mas não se limita nele. Incluo ai também Suassuna, Maria Bethânia, Noel Rosa e tantos outros... Acredite se quiser fui leitor ávido de Crepúsculo e não digo que seja ruim, mas respeito quem o diga porque sei que nem todos têm estômago pra tanto romance. A leitura de autores contemporâneos pode justamente servir como indicativo da decadência intelectual da nossa época, mas até acho R.R. Martin aceitável. Bom, quanto ao Olavo, talvez decepcione em saber que ele foi meu professor por muitos anos, até sua morte, e que ele, mais do que ninguém, foi o responsável pela formação da minha personalidade, e com ele aprendi a importância da leitura, de todos os tempos. Nunca vi alguém citar tantos autores de tantas épocas sobre tantos assuntos quanto ele e, não fosse a sua insistência, eu não leria nada além dos livros especializados em filosofia, limitando e muito a minha mente.

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    1. Note o “ mas o fato de ter durado mais de cem anos talvez seja meritório de alguma atenção.”. Atenção a ordem de discurso Foucaultiana e uma vontade de verdade.
      Acreditas que algo que se afirma com o tempo (um dos fatores) não seria minimamente questionável? Temos exemplos de histórias manipuladas ou exaltadas por esse sistema hierárquico que vivemos desde o início dos tempos, que manipula sentidos , narrativas e personas. O que conhecemos da antiguidade é o que foi passado ( a maioria) pela régua monárquica (maioria) , será que não há incongruências nestas narrativas contadas por vozes deturpadas?!
      Veja, a partir do momento em que seguimos uma história clássica, não repetimos , querendo ou não, a régua moral arcaica ? Baseada em princípios moralmente decadentes e caídos?!
      De qualquer forma, é preciso que se atente ao discurso do elitismo cultural, e todo discurso de “literatura clássica é a literatura de verdade. Contemporâneos são lixos”, não é uma total mentira, mas é algo que privilegia certa cultura e costumes de uma classe que teve uma educação que permite saber o que é ensejo ou miríade. Não quero derrubar os clássicos , apenas questionar a forma que São espalhados

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