sexta-feira, 9 de junho de 2023

Palavras desequilibradas

"Minhas desequilibradas palavras são o luxo de meu silêncio" foi o que disse Clarice Lispector num daqueles lampejos de genialidade atormentada. 

Estou uma pilha de nervos hoje. Já pensei em meter a cara numa dose cavalar de tarja preta umas três vezes, já respirei fundo pra não ser grosso e já fechei a porta pra não ver e nem responder ninguém. Pensei que fosse apenas um efeito do jejum intermitente que tenho feito mas, mesmo depois de comer eu continuo assim. Me irrito com a bagunça da casa, com a indolência da minha irmã, com a minha mãe se intrometendo na minha dieta, com meu colega de trabalho irresponsável me mandando mensagem no dia da folga, com os corpos magros do Instagram, com o meu celular sem mensagens porque eu sou insuportável e sem amigos. 

E de novo eu olhei os números dos acessos desse blog, e das visualizações no meu perfil, e entrava num loop em outras redes sociais, com a frustração aumentando mais e mais a cada ciclo, num retrato bem claro de um inferno psicológico, preâmbulo de um surto psicótico. 

Mas eu não quero entrar num vórtice de loucura, eu quero abraçar o caos e não me importar com mais nada. Que a casa fique um caos, que eu fique com fome e morra doente, contanto que morra magro, que as coisas saiam do trilho, a minha parte eu faço da forma correta, mas não posso obrigar ninguém mais a fazê-lo. Que eu morra sozinho, mas sem chorar pela minha sorte, pelo menos nas séries e filmes os homens têm finais felizes. Na minha vida os homens desejam mulheres ou outros homens que só querem sexo, e enquanto isso eu só queria companhia. Queria, porque hoje eu só quero dormir em paz, sozinho mesmo e, se me pressionarem demais, eu caminho de madrugada até o trapiche e me lanço na água. Sem saber nadar devo durar menos de um minuto me debatendo na água até que essa porcaria toda acabe, até que essa vida miserável termine. 

E parece um exagero chegar a isso, e talvez o seja mesmo, mas é assim que eu vejo, em silencioso desequilíbrio. 

~

Imagem: The Drinkers, de Van Gogh

Um comentário:

  1. Se continuar buscando na tristeza a poesia não irei cansar você também? Olha isso, até na possibilidade de me afastar de alguém que conheço pelas letras encontro inspiração. Há beleza na tristeza e na dor, desculpe por ser tão limitado mas, do que mais poderia falar?

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