quinta-feira, 29 de junho de 2023

Manhã de Corpus Christi

Foram dois momentos que me marcaram essa manhã de Corpus Christi. Levantei um pouco atrasado, cansado demais pra ir fazer tapetes às 5h da manhã na rua ao lado da matriz, e fui mais tarde envergonhado por não ter ajudado em nada mas, ao menos, consciente de que eu realmente precisava descansar. 

Aquele acólito passou por mim, mais uma vez me ignorando completamente ao falar com uma moça com quem eu conversava, e eu me senti invisível, de novo. E durante aquela missa, enquanto uma mulher conseguia estragar todas as músicas oitavando a voz principal num agudo insuportável, eu fechei os olhos e fiquei me perguntado, de novo e de novo, tentando descobrir a razão de tanto querer alguém assim. É ridículo, é horrível, é patético, e mesmo assim eu continuo tendo que lutar contra essa vontade, essa necessidade, contra essa imperfeição fundamental que se revela como um vazio que parece que só pode ser preenchido com outra pessoa. 

Essa questão já me persegue há muito tempo, já pensei nisso tanto e nunca entendi, de onde vem tudo isso? 

Mesmo agora eu me entristeço com o fato de que não sou prioridade na vida de algumas pessoas, como se isso fosse normal. Eu continuo desejando, e querendo ser aceito, respeitado e, principalmente, amado. Mas nada funciona nunca, e aí eu me odeio mais e mais. Odeio  meu reflexo, odeio minha sombra, odeio meu corpo, minha voz, minhas ideias, odeio tudo sobre mim...

Não encontrei nenhuma resposta, quase entrei em desespero. Aproveitei que estava tirando fotos da Missa e andei um pouco, me concentrando em pequenos detalhes da liturgia que, pelo menos, me renderam boas fotos. Um cacho de flores, a forma como a chama da vela nas mãos de outro acólito crepitava em frente ao altar, a disposição dos coroinhas em frente ao presbitério que, como eu fotografei contra a luz deu um ar quase beneditino ao arranjo...

Ao fim da procissão eu voltei para falar com aquela moça e aí se deu o segundo momento, quando ele se aproximou de nós e disse meu nome, e a conversa simplesmente aconteceu, entre risos e piadas, enquanto eu me controlava para não sorrir demais. Mas era incontrolável, eu estava em êxtase, estava que não me cabia em mim e, ao voltar pra casa, eu senti invencível, como o velho Yamamoto caminhando vitorioso por entre o exército inimigo derrotado aos seus pés. 

Queria dormir um pouco mas acabei fazendo um compromisso de sair com aquela moça, um pequeno preço a pagar por finalmente conseguir falar com ele diretamente, e por conseguir ouvi-lo dizer o meu nome. 

É, um dia com dois momentos diferentes... Talvez hoje, pela primeira vez em vários meses, eu durma com um sorriso no rosto. 

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