terça-feira, 27 de junho de 2023

Aforismos

Não sei se eu ciclei, se eu estou reagindo de uma forma péssima ou se isso é um episódio misto e eu tô, ao mesmo tempo, querendo morrer e com energia pra construir uma hidrelétrica ou se eu simplesmente endoidei. Queria muito tomar um porre de rivotril e capotar, apenas isso, e dormir por uns três dias, e voltar ao normal, mesmo não sabendo quando é que eu fui normal. Droga. Hoje vai ser um dia daqueles...

Muita informação. 

Muita. 

Ao mesmo tempo. 

Na minha cabeça. 

Exposição abrindo no trabalho, solenidades na paróquia, minha saúde andou dando uma derrapada esses dias, eu tô ignorando a vida amorosa por um tempo porque sem condições de pensar nisso e outras questões não tão bem resolvidas estão vindo todas ao mesmo tempo. E eu preciso respirar, mas ao mesmo tempo fazer mil postagens diferentes, cuidar de textos, fotos, coordenar, sorrir, falar, comer, pagar algumas dívidas e fazer outras. 

Minha cabeça deu um pequeno nó, e eu não tô conseguindo processar quase nada, devo estar com cara de retardado ou emburrado quando, na real, eu só tô confuso mesmo. Nem é nada pessoal com ninguém, só que as coisas estão indo rápido demais, e eu não consigo acompanhar. 

Simplesmente não dá.  

Tá tudo uma bagunça. 

X

É errado eu imaginar um momento simples, numa tarde de domingo, você e eu organizando livros, os livros que prometemos ler e usar para crescer, os livros que contém as incontáveis vidas que vivemos, os livros que contam histórias que absorvemos e que agora povoam nosso coração, que fazem nosso julgamento não ser bobo e superficial, mas ser amparado por séculos de tradições dos maiores que já existiram. Mas é errado pensar em fazer isso com você? Nós dois usando moletom, você numa regata branca larga e eu já sem camisa, sorrindo enquanto comento sobre alguma passagem específica de uma obra que li há alguns anos... Duas taças de vinho sobre a mesinha de centro, um beijo simples entre um gole e a retomada da organização, um sorriso calmo e numa tarde de temperatura amena. É, eu acho que é errado, você não gostaria nada disso, mas eu posso pelo menos sonhar isso na intimidade do meu sono?

X

Ele passou por mim como se eu nem existisse e, embora conversasse com sua mãe, ele agiu como se não estivesse ali, ao lado dele, há pouco centímetros do seu ombro, e tudo que vi foi um pequeno olhar na minha direção, um mero reflexo, quase imperceptível, que durou uma mínima fração de segundo... Isso só confirma o que eu já sabia, tomando-o como exemplo singular de uma situação geral: eu sou insignificante. Se alguém não precisa de mim não vai se lembrar da minha existência patética. Não sou o amigo dos bons momentos, sou aquele em quem as pessoas descontam as suas raivas e frustrações, aquele que não reage, que nunca revida, que sempre apanha. E ele se foi, como uma sombra, passando por trás de mim. 

Depois disso eu me sentei no banco da igreja, fechei os olhos e teria conseguido rezar se não fosse a música exageradamente sentimental que tocavam que mais me irritou do que conseguiu me fazer rezar. Por outro lado ela me emocionou e eu vi que as pessoas ao me redor, todas elas, confundiram a emoção da música com alguma ação do Espírito Santo. Me pergunto se algumas delas percebe que se colocasse uma música tipo aquelas da trilha sonora de 50 Tons de Cinza elas ficariam excitadas... Acho que não. Mas, de todo modo eu fiquei ali. Apenas uma sombra, imperceptível e insignificante, como sempre. 

Teria tomado uma boa garrafa de vinho quando voltei pra casa mas fiquei com uma crise de alergia insuportável durante todo o dia e só consegui chegar e dormir. Minhas semanas têm se resumido a isso: trabalhar com um sorriso no rosto enquanto aguento o mau humor dos outros como se eu mesmo não tivesse nenhum problema, onde todos podem ficar de cara feia menos eu porque ai eu sou grosso e, no fim de semana, eu fico doente e não consigo descansar nada... É, é uma boa rotina. Será que alguém vai descrever isso ao escrever como foram meus últimos dias? 

X

Todos eles são iguais. Me machucam com um olhar alegre, com prazer sádico, como se meus sentimentos não fossem nada. Foi assim anos atrás quando aquele homem me pediu, enquanto eu chorava em seus braços, que eu me desculpasse com aquela mulher maldita. Agora outro homem me obriga a ouvir sobre ela como se isso não fosse como se ele enfiasse um punhal no meu peito e, tirando-o com violência, lançasse meu sangue como pequenas gotas de rubi espalhadas por um palco de uma peça que ninguém assiste. Cada uma dessas pequenas gotas de rubi estão cristalizadas de meus sentimentos mais profundos, que se derramam enquanto ele ri de mim. 

Nem mesmo posso dizer como o admiro, como seu corpo é para mim tão belo quanto o Torso Arcaico de Apolo, como o admiro de tal modo que ele é quase um ideal, a imagem de um semideus cuja única graça eu imploraria era que me deixasse vê-lo, uma única vez que seja, ou tocá-lo, ainda que isso significasse minha morte.

Eu só tentei amá-lo com tudo que tinha, e o mais que faço não vale nada.

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