segunda-feira, 5 de junho de 2023

Companheira de Jornada

Tenho tentado manter firme em meu propósito, e a primeira ação que tomei foi  de começar a disciplinar a minha imaginação para assim conseguir manter o foco necessário para controlar a minha vontade. Eu sempre olhei muito para os rapazes na rua, principalmente depois que vim morar aqui em Joinville. Agora eu venho adotando uma postura mais displicente em relação a isso, evito cruzar o olhar, mantenho a cabeça baixa ou fixa num livro. 

Eles passam por mim, às vezes vem aquela faísca, e eu simplesmente fecho os olhos e me concentro em outra coisa. Todo esforço imaginativo que eu fazia ao ver um homem atraente é um desperdício de esforço que posso melhor aplicar as potências mais elevadas da minha inteligência, posso aplicar em dominar a minha vontade e purificar os sentidos. 

Quero me tornar um homem que caminha apático e sem se deixar distrair pela beleza do outro, assim evito devaneios que poderiam me fazer novamente entregar-me a uma relação onde minhas forças se desequilibram nos sentimentos diversos que me fazem perder completamente o rumo das coisas retas e sérias. 

Isso significa que ninguém mais deve ter para mim a importância que dei antes, de fazer toda minha vida girar ao redor de conseguir o amor e a admiração do outro. Eu não nasci para ser amado e por isso eu não devo colocar o outro num pedestal e me dedicar completamente a amá-lo. 

Devo ajudar, ser afetuoso e atencioso, mas não devo precisar do amor de ninguém. Devo apenas me preocupar em buscar a verdade. 

Depois de tomada a decisão inicial é preciso começar a agir conforme essa decisão, e o mesmo vale para o movimento interno de reorganizar a importância que eu dou para as pessoas. Preciso então me habituar a ser distante, embora presente, e não depender do amor e do carinho de ninguém. Já disse em outra ocasião que eu não sou o tipo de pessoa que os amigos se recordam para chamar em bons momentos, eu sou o amigo da necessidade. Isso, muito embora eu ainda diga com grande carga melancólica é, na realidade, uma grande oportunidade. 

O homem que não precisa perder-se me conversas longas e fúteis pode concentrar o esforço do seu espírito nas coisas elevadas, e não digo isso com arrogância, mas com a consciência de que há coisas muito melhores do que sofrer indefinidamente, do que me apaixonar repetidas vezes e continuar a me decepcionar em todas elas porque eu tenho essa imperfeição fundamental que faz com que ninguém olhe para mim. E aí então, seguindo uma vida intelectual, buscando a verdade, talvez ao fim, quando eu estiver sozinho e cansado demais para cuidar de mim mesmo, eu possa encontrar conforto nos braços da morte acolhendo-a como uma velha amiga, talvez a única que tenha assistido a toda minha jornada. 

X

Admito que tenho cedido muito a tentação lascívia. Ultimamente não me sinto muito bem, parece tudo sempre vazio, e tudo o que eu vejo contribui pra que eu me sinta desaparecer, não me sinto vivo. E vejo as pessoas nas suas vidas fúteis, mas elas sorriem, e cantam e dançam e namoram e se apaixonam, e eu não sinto nada, no máximo saudade e solidão, e não há nada muito vivo na saudade, pelo contrário. Então, pelo menos naquele breve instante de luxúria onde a avulsão da forma nívea me causa tremores e gemidos abafados, eu me sinto vivo como uma faísca, que logo se apaga novamente, como a vida que cessa, simples, fugaz, imperceptível.

~

Imagem: Lovers  - Jaroslaw Datta

3 comentários:

  1. Relato abaixo:
    A primeira vez que tive este estalo foi depois de meu único querido amor platônico, e acredito que seja o mesmo que ocorre com você. Prendi-me em um questionamento que levo intrínseco a minha essência: uma felicidade barata ou um sofrimento elevado? É evidente que me tornei triste, arrogante e antipática com o tempo, mas ainda sim curiosa e querida! (dependendo). Entenda-me como alguém que quando o olhar bate, entende-se que é distante, chata e introspectiva (favor lembrar de V.Woof). Ser assim não é necessariamente ruim, mas você perde inevitavelmente o sentimento pelas coisas, enxergando-as como : amor feliz= amor entediante; amor difícil= amor que dói; filhos= incômodo ; mãe e pai= será que são tudo isso? ; etc. A vida se torna... chata? A única relação que ainda tem chance para mim é o casamento, mas achar um marido que caiba na minha chatice é difícil. Reconheço que sou querida demais (entenda como boa demais, mas sem o tom narcísico) para olhar para alguém que lê Augusto Cury, ou que passa mais tempo no Instagram fingindo ser intelectual do que praticando realmente a intelectualidade; é difícil ter vínculo . Caso metade dos ''felizes baratos'' enxergassem que apenas são felizes por falta da metade do cérebro, talvez sua felicidade não seria tão atenuada. De qualquer forma, seja distante e aposte em você mesmo, visto que com os outros nada vale.
    Obs: Talvez sejamos apenas amargurados por não poderem/terem seus amores/desejos correspondidos.

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    1. DISSE TUDO: OS OUTROS NADA VALEM!
      Eu passei a vida em função dos outros, sempre, e sempre me abandonei por isso, hoje me odeio e os outros? Ha, acham que eu sou infeliz e chato demais pra eles... É mole?

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    2. Sou fã convicta de legião, que tem tempo perdido tatuado pois acredita que não tem nada maior que o tempo, logo, fica impossível não aproveitar o ensejo de : https://open.spotify.com/intl-pt/track/5WOXdAAtSQIIGXQt96uJJH?si=0892d495d45147a3

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