quarta-feira, 18 de maio de 2016

A cela do autoconhecimento e a hipocrisia pessoal

Mais uma vez aproveitando a onda de inspiração dramática dos últimos dias. Como não sei escrever música e acho que estou com preguiça demais pra fazer algum estória autoral, só vou desabafar aqui mais uma vez. Na playlist hoje tem o album ANIME CLASSIC da Ayako Ishikawa. 

Santa Catarina de Sena fala em muitas de suas cartas sobre o quanto é importante que a alma se feche na cela do autoconhecimento e ali e somente ali, ela consegue o verdadeiro encontro com Deus. Desde que comecei a ler seu epistolário, que terminei faz alguns meses, tenho refletido sobre essa cela do autoconhecimento. Claro que a doutora em mística não fala somente de uma cela física (visto que na maioria dessas cartas ela se dirige a religiosos) mas principalmente de uma cela espiritual. Aqui a cela assume justamente o objetivo de isolamento. É na solitária que a alma se silencia e pode ouvir os ecos da própria pulsação e assim conhecer a si mesmo. Somente depois de adquirido esse autoconhecimento é que a alma está  pronta para o relacionamento com o próximo. 

Cruzei essas reflexões com algumas frases da sabedoria popular que nos dizem que o amor próprio é tudo. De fato, começo a arranhar a superfície desse conhecimento agora. Não posso exigir amor de alguém se nem mesmo eu sou capaz de me amar antes. Seria contraditório, uma hipocrisia pessoal, por assim dizer. 

Primeiramente, a pessoa tem de estar num estado de satisfação consigo mesma, depois de se tornar autosuficiente, ai sim está preparada para buscar um relacionamento. Note que eu eu disse autosuficiente e não independente, pois ninguém pode viver sozinho. Mas buscar no próximo aquilo que não tem dentro de si mesmo é pedir para se decepcionar. 

Mas brasileiro gosta de sofrer... e parece que mesmo com toda essa informação na cabeça, o coração não consegue absorver. Chega a beirar o ridículo o quanto as pessoas se humilham umas pelas outras incessantemente na busca de algo que elas mesmas deviam se proporcionar. Não deveriamos esperar nada de ninguém, mas justamente querer oferecer, e assim, numa troca, caminhar lado a lado. Não carregando e nem sendo carregado. Mas também sem ser arrastado. Tem de ser natural, consensual. Adjetivos demais para as pessoas vazias que hoje encontramos. Nossas conversas se resumem a assuntos contidianos simplesmente para não perdemos aquela paquera fixa, por medo de ficarmos sozinhos. Como se a solidão fosse algo a se temer. Ora, não deveria ser, pois se justamente não paramos de reclamar do quanto as pessoas nos decepcionam, estar só seria uma garantia de não ser decepcionado. Dai a eficácia de voltarmos à cela do autoconhecimento, trabalhar aquilo que falta em nós, sem buscar no próximo, e ai sim, depois de criar essa blindagem, ter a força necessária para seguir em frente. 

Acho que estou andando em circulos, ou talvez não. O que eu pretendo com isso é justamente criar um ponte de orientação, um ponto de equilibrio. Acredito que estou justamente nesse estágio, de buscar refúgio na cela do autoconhecimento e adquirir minha blindagem pessoal. Não estou dizendo que não quero voltar a amar. Isso seria mentira. Estou dizendo que por hora, não posso voltar a amar. Não posso e não devo. Primeiramente porque não seria algo verdadeiro, depois, acredito que ninguém merece uma pessoa que só consegue amar pela metade, seria injusto com quem quer que seja. 

Tá, mas e ai?

Não basta só a decisão, basta a força para a ação. E ai, haha, ai é que ta o problema. 

Acabo de passar vários minutos olhando pro relógio de parede com estampa do Flamengo que meu pai colocou na parede da sala e não consegui juntar força sequer pra ir a cozinha, quem dirá pra me fechar na cela do autoconhecimento. Imagine que um atleta tenha se preparado por meses para correr uma maratona de 50km. Cuidou da alimentação. Trabalhou o percurso paara atingir o seu melhor tempo. No dia da competição, descobre que um infeliz engano o preparou para a o evento errado. A maratona não teria 50km, mas sim 100km, o dobro do que ele havia se preparado. Pode ser até que ele consiga terminar o percurso, mas obviamente não com o mesmo desempenho para o qual ele tinha se preparado. Mas pode ser também que seu condionamento físico não seja suficiente, e ele acabe por desmaiar a poucos quilômetros da linha de chegada, tendo de ser socorrido por paramédicos pois já não consegue mais se mover. Seus músculos pararam. Não obedecem mais seu comando, Apenas o coração e os pulmões continuam a trabalhar com força total. Até o cérebro parece mergulhado num oceano tão frio que impede qualquer reação. 

Eu sou esse atleta. Acreditava estar preparado pra maratona. Mas não estava, e agora estou deitado na pista, esperando pelos paramédicos (que sejam gatos, por favor, obrigado!). Deitado na pista, sem reação, sem movimento. Acredito que enfim caí no tão temido torpor. Odeio quando fico assim, sem capacidade de reação. Me sinto vulnerável demais.  E ninguém gosta de se sentir assim. Como sair dessa?

Sim, eu sei, muitos ficam repetindo a mesma coisa: levanta a cabeça! Vai a luta! 

Ta,

Mas

Se

Eu

Soubesse

Como

Fazer 

Isso

Eu

Não

Estaria

Assim

Obrigado.

Não é facil fazer isso. E me arrependo siceramente de todas as vezes que aconselhei alguém que passava por isso com essas palavras, acredito que mereço uns tapas por isso.  

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