segunda-feira, 16 de maio de 2016

As lembranças são romantizadas, as memórias não.

Depois de uma dúzia de encontros e desencontros na festa da igreja, acho que posso dizer que o evento foi um sucesso. Apesar de tudo. Foi gente que não quis trabalhar, gente que discutiu (inclusive eu), gente que largou tudo nas mãos dos outros e ainda levou crédito. Mas no final, deu tudo certo. Agora é pelo menos uma semana pra descansar. Pra nós cerimoniários, domingo que vem já tem Solenidade da Santissima Trindade e logo depois, Corpus Christi, ou seja, não vou descansar tão cedo. 

Bom, sábado cheguei em casa com a cabeça ligada nos 220 voltz, impossível dormir, mega chateado. Resolvi tomar um Clonazepan 3mg pra relaxar. Funcionou perfeitamente até o efeito passar. Domingo acordei ainda pior, tomei outro, mas não esperava que o efeito perdurasse até a noite. Tive de ir de carro pra igreja pois não consegui nem andar direito. Quase não consigo nem servir na missa e ainda passei o resto da noite que nem um zumbi, falando coisas sem sentido. E ainda tinha passado o dia sem comer pra evitar enjoo, então fiquei bem ruizinho mesmo.

Agora exlicar o motivo dessa atitude idiota de ficar tomando remédio controlado quando fico chateado ao invés de só tomar um fitoterápico qualquer. 

Bom, como é de conhecimento geral, não tenho lidado muito bem com certos acontecimentos, e as vezes as lembranças voltam, e voltam com força. Tomoko Ninomiya, autor de Nodame Cantabile, disse que "As lembranças são romantizadas, as memórias não." E essas lembranças romantizadas acabam por mergulhando minha cabeça num oceano de torpor que me deixam incapaz de agir. Por isso a fuga medicinal. É covardia no seu estado mais puro, eu sei. Alguns podem até pensar que é simplesmente falta de força de vontade de dar a força por cima, mas na verdade não tenho essa força. Nunca a tive comigo. 

Bom, por mais que seja agradável ficar fora de órbita por algumas horas, logo depois a realidade tem de voltar. Infelizmente não sou como Tchaikovsky ou Mozart que, em rompantes de fúria escreviam dezenas de obras maravilhosas, como a Sinfonia Patética ou o Requiem. Eu não. Fico deitado no escuro olhando pro nada esperando a solução cair do céu. Mais engraçado ainda é notar que a pessoa conhece a fundo o problema e suas causas, conhece a solução, mas não consegue aplicar. É como se um oncologista tivesse câncer em estado terminal e ainda assim conseguisse desenvolver a cura pra sua doença, mas preferisse mante-la no seu armário ou vender para uma grande companhia do que aplicar o unguento em si mesmo. Como um cachorrinho iserável lambendo as próprias feridas.

Por falar em Requiem, lacrimosa dies illa, lacrimoso aquele dia se mostrou. Não sou de chorar, já disse isso aqui uma porção de vezes. Não que eu não queira, ou que esconda isso de alguém, mas não consigo chorar. Mas últimamente tenho chorado com alguma frequência. Não acho que seja motivo de fraqueza, e mostra que ainda não entrei em torpor, pois bem sei o quanto é dificil sair de lá. Acredito que chorar faça bem. Me deixa mais leve, por vezes durmo, e acordo mais tranquilo, como se as lágrimas lavassem as feridas por onde caem. É um sentimento interessante, ainda novo para mim.

O fato é, preciso reagir. Termino a faculdade em alguns meses, pretendo começar a pós logo em seguida e ainda tenho muitos planos pra minha vida acadêmica. Quero me especializar em História da Arte e ainda fazer extensão em Pedagogia. Assim consigo uma segunda graduação e uma pós aos 22 anos. Não é tão ruim assim. Mas pra isso acontecer eu preciso levantar a cabeça, e como diz minha mãe, seguir em frente, coisa que tem sido dificil, pois estou estagnado já há algumas semanas, Isso pode ser ainda mais perigoso devido ao fato de que pra entrar no estado de torpor, se é que já não estou entorpecido, só basta ficar muito tempo insistindo nessa existência sem graça e sem motivação. Mas ai, pra sair desse estado, é bem mais complicado. Nem sei como saí anos atras quando passei por dificuldades semelhantes. Mas consegui, e se consegui daquela vez, vou conseguir desta também. Ora.

Pra terminar, vou usar o trecho da tradução de uma música que tenho ouvido muito ultimamente.


"A razão para suas suas feridas não curarem
quando você tenta esquecê-las
É porque tem que lembrar delas para então esquecer
Eu continuo dando voltas e voltas em círculos
Mas agora é a hora do relógio começar a funcionar de novo"

Nanairo Symphony (Coalamode)

Fiquei pensando nessa música nos últimos dias. Acredito que o lembrar de que a música fala se refere ao ato de ponderar as lembranças. Acho que elas não devam ser como feridas, mas sim como algo que me deixe mais forte. Não ficar remoendo querendo que elas retornem, mas lembrar delas como algo que foi bom, sim, mas que acabou e que justamente por isso abriram caminhos para novas situações. Isso significa um bom recomeço. Quantas pessoas gostariam de recomeçar e não podem... Tenho essa oportunidade agora, e por mais que a dor permaneça, eu não posso deixar de seguir em frente. 

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