02. Argumento
Sem dúvida nenhuma a
parte mais difícil da mudança de cidade foi convencer minha mãe a deixar o
Shinitt morar aqui também.
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Eu levei
semanas para fazer que ela entendesse que a única maneira de eu me mudar para
cá fosse se ele pudesse vir também. Eu tomei essa decisão, pois obviamente não
queria me separar da única pessoa que eu realmente gostei em todo esse tempo.
Como a entrada dele na casa de meu pai despertava muitos comentários maldosos,
olhares mal-humorados e, é claro, desaprovação total, essa foi á única maneira
que eu encontrei para que a gente pudesse permanecer junto.
Como a
minha dele desaprovava completamente o relacionamento e ele vinha ficando muito
chateado ultimamente com o preconceito dos pais ele não teve nenhum problema em
sair de casa para morar comigo.
No
entanto minha mãe não era a maior fã do mundo de meu namoro, eu demorei muito
para fazê-la entender de que só assim eu poderia ter paz de verdade. Segundo
ela, Shinitt não deveria ficar longe dos familiares, por mais que eles o
maltratassem.
Felizmente
por fim, eu acabei por convencê-la, quando disse, com um pouco de indelicadeza
admito, que eu o amava.
Ele
chegaria em alguns dias, pois precisava de tempo para arrumar suas coisa já que
minha mãe mudou de idéia no dia anterior ao da minha mudança. E ele ainda
deveria conseguir a papelada da escola para fazer a transferência.
Por
sorte minha mãe é uma grande amiga da mulher responsável pelas matrículas de
minha nova escola e ela nos garantiu que poderíamos ficar na mesma turma,
contanto que não houvesse "demonstrações publicas de afeto" como ela
mesma colocou. Obviamente o preconceito era ainda maior aqui do que nas grandes
cidades. Mas como éramos novos aqui talvez conseguíssemos um pouco de
privacidade.
Claro
que quando um garoto de cabelo muito grande e seu namorado violinista se
mudassem para a escola local a notícia se espalharia de um forma extremamente
rápida e como toda certeza isso no colocaria em incontáveis situações, tanto
cômicas quanto constrangedoras. Mas ainda assim acreditamos que essa mudança
seja uma coisa boa.
Minha
mãe tinha um emprego até legal, como secretária de um político podre de rico da
capital, ela trabalhava durante a semana e alternava os fins de semana como a
vice coordenadora de um Buffet luxuoso da cidade. Coincidentemente ela deveria
trabalhar no fim de semana de minha chegada. Mas ela prometera que iríamos
jantar juntos no sábado a noite, eu não fazia questão exatamente disso, mas
concordei pois era o mínino que poderia fazer para uma mulher que compra uma cama de casal King Size para o filho e
seu namorado. Imagino como isso deve ter sido difícil para ela.
-Tudo
bem então, eu preparo tudo antes que a senhora chegue e teremos um jantar como
fazem as famílias de minhas séries de TV.Certo?
-Bom por
mim tudo bem. E eu entendi o recado, você pode ligar na companhia de TV a cabo
hoje e fazer seu pedido no meu nome.
-Valeu,
pode deixar comigo.
-Mas
pede também pontos adicionai para os quartos, seu amigo pode não se sentir
completamente a vontade de ver TV comigo na sala...
-Ok pode
deixar, Tchau
Eu
duvidava se seria o Shinitt mesmo o desconfortável em ver TV na sala. Contudo
isso não era importante, eu não poderia ficar sem TV por muito tempo.
Depois
do almoço improvisado com o que podem ter sido as sobras do dia anterior eu
liguei para a operadora de assinaturas e contratei o plano que minha mãe
preferiria. Depois disso só restava aguardar três dias.
Três
dias. Na minha outra casa a instalação foi feita no mesmo dia do contrato.
Aparentemente eu teria que me conformar com prazos grandes se quisesse morar
ali.
Após
isso eu me dediquei em melhorar a decoração da casa de minha mãe. Ela podia ter
bastante dinheiro agora, mas continuava sem nenhuma noção de decoração.
Sinceramente não sabia de onde vinha esse espírito organizador que eu tinha.
Como havia horas que eu não via TV e nem ouvia música, e eu era dependente
dessas coisas como um favelado é
dependente de drogas ou um francês é dependente de massas, eu resolvi ligar o
som que minha anfitriã comprara já que meu antigo aparelho estava obsoleto e eu
o tinha deixado na casa de meu pai.Escolhi bem o primeiro CD a tocar, pois
deveria ser algo que eu gostava muito, para que desse sorte.
A
escolha foi fácil: HITOMI SHIMATANI, o álbum Best & Covers, meu favorito
tocou no volume máximo, quando eu liguei as caixas de som que haviam sido
estaladas no andar de baixo e no
exterior da casa.
Muito
obrigado mãe, eu sempre adorei música alta. A coisa ficou ainda melhor quando
começou a música Mermaid, e eu cantei em
voz alta as já conhecidas notas de :
Miss you... Need
you... Love you... Blue Mermaid!
A
situação ficou completamente perfeita quando começou minha música favorita da
cantora, Angeluz. Foi quando eu finalmente me senti bem depois de ter chegado
ali.
Depois,
quando a tarde foi acabando e eu ja
tocara alguns de meus CDs favoritos como Otoko Uta e Showstoppers eu decidi falar com o Shinitt com uma
conferência na internet pois eu estava ficando com saudades.
Foi uma
conversa bem animada e ele ficou feliz em ver alguns cômodos da casa pela can
do notebook, mas ele ficou ainda mais alegre ao ver a cama que havia sido
comprada para nós.
Infelizmente
tivemos que nos despedir depois de algumas horas, eu poderia ficar horas
falando com ele sem parar, mas eu tinha que preparar o jantar para minha mãe
como eu havia prometido. Pelo menos ele me deu certeza que viria no fim da
semana. Então eu só teria que enfrentar uma semana de aula sem ele...
Desde
então eu passei a me concentrar em preparar o jantar. Obviamente eu não
cozinhava tão bem quanto minha mãe, mas ainda era melhor que a maioria das
pessoas de minha idade. E eu havia resolvido preparar algo simples, que não me
tomasse metade da noite pois eu ainda a intenção de dormir cedo se pudesse.
Quando quase tudo estava pronto eu ouvi minha mãe mexer na porta de entrada. Eu
sabia que era elaa pois era fácil para mim reconhecer as pessoas pelos passos e
pela respiração, mesmo que elas estivessem a metros de distância de mim.
-Nossa
pelo cheiro isso aí ta muito bom...
-Bem,
não ta perfeita como o da senhora, mas acho que supera as expectativas...
-É o que
veremos. Mas eu estou com tanta fome que comeria um frango até vivo..
-Mas
este aqui ta morto, espero que não se decepcione!
-Sei que
não vou. -Ela disse beijando o alto de minha cabeça e sentando a cabeceira da
grande mesa da cozinha. -Então, o que teremos hoje?
-Assado
de frango com batatas, Nattô e Dango com suco de feijão.Espero que goste.
-Com
certeza vou gostar. Ainda não conheço o frango, mas culinária oriental sempre
foi seu forte.
-Mai ou
menos-Ela se referira as poucas vezes que eu cozinhei para nós nas raras
visitas que ela fazia a mim e a meu pai. Mas eu fiquei feliz pois mesmo se não
estivesse perfeito ela não iria reclamar.
Como eu
pensara não reclamou de nada, apenas me deu algumas dicas para a próximas
vezes, e me lembrou de que, como durante a semana ela costuma chegar tarde e
cansada eu seria o responsável pela alimentação da casa dali em diante. Isso
sem levar em conta que o Shinitt era um desastre na cozinha.
-Eu
falei com Shinitt hoje, ele chega ao fim da semana-Sua expressão mudou de
prazerosa para receosa rapidamente, e sua cor ficou levemente corada.
-Bem..Kaoru
nós precisamos falar um pouco sobre isso...-Comecei a me preocupar com seu tom
de voz.
-Não
diga que mudou de idéia.
-Não.
Não é isso. É que eu andei pensando um pouco e eu estou preocupada.
-Preocupada, ela sempre fora mais desencanada com isso do que meu pai, ao que
será que ela se oporia...
-O que
foi que aconteceu?
-Não
aconteceu nada, ainda. É que... Você e esse rapaz, parece que estão sérios
agora e eu como mãe me preocupo com você...
-E estou
confuso, aonde quer chegar?-Na verdade não estava confuso, sabia exatamente
onde isso iria parar e também sabia qual era o motivo dessa conversa. E o tom
de pele dela estava ficando ainda mais escuro, eu comecei a me preocupar se ela
iria ter uma parada cardíaca.
-Bom
você sabe a coisas que acontecem entre duas pessoas quando elas passam a morar
juntas e agora vocês vão passar a dormir juntos, quaro dizer na mesma cama...
-Mãe,
não. Não precisamos falar disso, por favor- Eu senti meu rosto enrubescer de
forma violenta, eu estava ficando muito constrangido e a pior parte ainda devia
estar por vir...
-Eu sei
que não, me sinto tão desconfortável com isso quanto você.
-Eu
duvido, vamos a sobremesa, ora, por favor.
-Não. Isso
é necessário. Quando eu concordei que ele
viesse morar aqui eu sabia que estaria concordando com muitas outras
coisas das quais você não estava falando.
-Mãe eu
sei aonde quer chegar, mas me escute, nós, quer dizer, eu e o Shinitt nunca...
-Eu sei que
nunca-ela interrompeu antes que ficasse pessoal demais- e é exatamente com isso
que eu me preocupo...
-Como
assim?
-Vocês
são muito jovens, talvez ele tenha mais experiência do que você e você sabe
quantas coisa ouvimos falar hoje em dia.
Então era
isso. Eu já havia tratado desse assunto com o Shinnit e ele me garantiu que
nunca tinha feito nada do tipo com um garoto, eu por outro lado era
completamente virgem, por assim dizer. Ele foi a primeira pessoa por quem eu me
interessei de verdade e nunca tive muita intimidade com uma garota. Não nesse
sentido. Contudo, por precaução eu o convenci a fazer alguns exames antes de
vir para cá.
-Mãe, eu
sou precavido, a senhora sabe disso.
-Sei,
mas também sei que os adolescentes nem sempre tem o controle deles mesmos, por
mais instruídos que sejam-Por Deus, como havíamos chegado a esse assunto, como
era constrangedor...
-Eu já
tomei algumas providências com relação a isso, não precisa se preocupar
tanto...
-Me
garante?-Perguntou preocupada.
-Garanto.
Terminamos
o jantar em silêncio. Depois de um longo abraço eu subi, com a intenção de ir
diretamente para a cama. Aquele tinha sido um sábado bem... humm... Peculiar.
Eu estava cansado e no dia seguinte eu iria fazer os preparativos para a escola
nova. Que me aguardava do mesmo modo que o vilão de um filme de terror espera
que suas vítimas se desesperarem e abram a porta no momento exato que ele
pretende atacar.
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