segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

A cura do Amor

Antes era "Eu te amo". 
Hoje parece ser só "Eu te amo".

Agora parece algo dito de forma automática, sem a convicção profunda que nasce do coração e que transborda nas vibrações do ar que levam ao coração do amado as palavras sinceras do amante.

Parece-me que a palavra Amor pode se esvaziar de seu significado, mas qual seria esse significado?

O amor é a pura manifestação do coração que desejar o bem de outro coração. O amor é sentimento maior até do que aqueles que o sentem, e estes movidos pelo amor são impelidos a viverem partilhando esse sentimento que brota a transborda. Essa partilha com o outro é a manifestação do amor, imagem daquele amor maior que nos infundiu a vida. Quando o 'eu te amo' é dito com a sinceridade do âmago da alma, as borboletas que habitam nosso estômago dançam de alegria, o sorriso é estampado nos céus e iluminado pelos raios do sol. Mas quando é dito automaticamente, como algo que por hábito se tornou banal, apenas evoca a sensação de uma sala vazia, pintada de um cinza triste, e nada mais.

Mas, parece-me que a fonte pode secar, ou ao menos diminuir seu fluxo, e então quando isso acontece, a palavra Amor pode perder o simbolismo, e uma vez que isto acontece, a palavra já não evoca mais o que antes lhe era próprio. O Amor, quando dito repleto de seu significado e pleno de seu poder, traz a vida. Quando vazio, traz a indiferença. E uma vez que tenha se esvaziado, o amor pode ser repetido, de lábios em lábios, em centenas de canções e poemas, sem nunca evocar o seu significado real, sem nunca despertar aquilo que antes despertava no coração. Perde a cor e o sabor, torna-se insípido, sem graça, monótono.

O amor precisa ser redescoberto a cada dia, e a cada dia deve iluminar a face dos amados. O amor não pode morrer, precisa ser alimentado, com a presença, o carinho, a sinceridade, a compreensão. Quem disse que o amor não pode morrer? O amor pode morrer, e ouso dizer que quando isso acontece, nada é capaz de trazê-lo de volta a vida. Mas ele antes disso empalidece, adoece, e enquanto não morreu, pode ser curado, e pode voltar mais forte do que antes. O amor também adoece, e como a anemia empalidece o corpo, o amor doente empalidece a alma.

Como curar o amor?

Ele é como um quadro, pintado pelas mãos de um artista talentoso, que em cada canto de sua obra escondeu um detalhe que muda toda a perspectiva geral. A cada descoberta o quadro geral muda. Assim somos nós, os amantes e amados. A cada dia precisamos encontrar novos detalhes, que nos façam perceber a totalidade da coisa que nos impressiona. Precisamos mudar a perspectiva, mudar a forma como vemos e até mesmo o que vemos. As vezes um pequeno detalhe muda todo o conjunto.

O amor precisa ser alimentado, como o disse. O carinho deve ser incentivado, a presença, a compreensão. É horrível quando num relacionamento alguém sente-se mais solitário do que quando estava solteiro.

Amor é partilha. Do que se tem de melhor e pior. Amor é companhia na alegria e na tristeza, nos dias de chuva, triste sob a coberta e nos dias de sol, correndo alegremente nos parques da paixão. O amor é compreensão. Compreensão de que o outro tem limites, tem necessidades, tem medos e defeitos, mas que até mesmo essas coisas fazem parte do conjunto, e se o conjunto desperta amor, essas coisas passam a conviver de forma equilibrada com o que se há de melhor.

O amor precisa ser nutrido com a confiança e temperança. Nada demais faz bem. Quando se obriga o amor, quando se exige algo dele, ele morre. Mas quando o amor é deixado livre, ele voa alegremente no céu de nosso coração, e sempre pousa nos ombros daqueles que o libertaram.

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