"A Beleza está desaparecendo do mundo porque vivemos como se isso não tivesse importância." (Roger Scruton)
Como um apaixonado pela arte, especialmente pela música, eu me sinto profundissimamente ofendido com a falta de apreço que o belo provoca nas pessoas. A falta de um senso estético minimamente afinado é algo que me desespera.
Todos os domingos, quando vou a Igreja, me incomodo com a feiura daquele lugar, que já construído sem a mínima preocupação e que a cada nova mudança fica ainda pior. Parece que todos estão dispostos a deixar aquele altar da pior forma possível. Não consigo deixar de pensar que celebrar a Missa ali é algo não menos do que sacrílego.
A música em si é outro algo que me incomoda. Frequentemente me fecho em meu quarto para ouvir sozinho, já que as pessoas não tem paciência pra admirar uma obra de verdade, como o faço agora.
É triste saber que as pessoas não conhecem obras tão belas, tão densas, tão poderosas, e que acreditam que aquilo que conhecem são o ápice da realização humana. Nunca tiveram contato com o mundo real da arte, pois é impossível não se deixar levar pelo belo, que nos faz propender ao que é bom e justo.
Como podem viver sem conhecer o amor trágico de Tchaikovsky em suas sinfonias? O Destino que assusta o homem em sua 4° e a história de amor que termina em morte em sua Patética? O poder absoluto daquela Abertura 1812, ou ainda a delicadeza de seus balés?
Como vivem sem ouvir falar de Rachmaninoff, que ao se recuperar de um colapso depois de duras críticas escreveu o que deve ser o concerto para piano mais belo de todos?
Mahler, que não se deixou limitar pela forma, mas que usou de seus ciclos de canções e sinfonias para expressar toda a complexidade do seu ser. A sua Titã, que conta uma história de amor épica. A sinfonia da Ressurreição, que mostra seu encanto pela tradição cristã. A sinfonia n° 3, com suas impressões do mundo e de n° 4, onde a música dos anjos se sobrepõe a música dos homens. A esquizofrenia da 5°, a tragédia da 6° até culminar na apoteose da Sinfonia dos Mil, que mostra a redenção por meio do amor. Cada uma dessas músicas poderia ser descrita em dezenas de páginas e lágrimas, tamanha a experiência humana por trás de cada uma delas.
Claro, não posso esquecer de Beethoven e sua Eroica, homenagem aos revolucionários franceses, repleta dessa mesma força capaz de mudar o curso da história. A sua 5°, Destino, poderosa e imponente como o nome. Sua Coral, o ápice da realização humana. Tudo fica oxidado perto dessa grande obra, desse grande hino a alegria.
Ainda temos Verdi, com seu Requiem, Puccini com Turandot, Strauss e as profecias de Zaratustra e tantos outros nomes... Todos desconhecidos.
O Belo não tem mais lugar entre nós. O belo que antes era o ideal da civilização deu lugar ao sexo desenfreado e ao sentimento coletivo da traição do sertanejo universitário, reproduzido até a exaustão nas rádios e festas comuns. O belo se perdeu nos livros de História da Arte, e hoje só habita na mente de uns poucos que, como eu, ainda sentem algum apreço por esse que deveria governar as nossas vidas.
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