quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Em defesa da beleza

"A Beleza está desaparecendo do mundo porque vivemos como se isso não tivesse importância." (Roger Scruton)

Como um apaixonado pela arte, especialmente pela música, eu me sinto profundissimamente ofendido com a falta de apreço que o belo provoca nas pessoas. A falta de um senso estético minimamente afinado é algo que me desespera. 

Todos os domingos, quando vou a Igreja, me incomodo com a feiura daquele lugar, que já construído sem a mínima preocupação e que a cada nova mudança fica ainda pior. Parece que todos estão dispostos a deixar aquele altar da pior forma possível. Não consigo deixar de pensar que celebrar a Missa ali é algo não menos do que sacrílego.

A música em si é outro algo que me incomoda. Frequentemente me fecho em meu quarto para ouvir sozinho, já que as pessoas não tem paciência pra admirar uma obra de verdade, como o faço agora. 

É triste saber que as pessoas não conhecem obras tão belas, tão densas, tão poderosas, e que acreditam que aquilo que conhecem são o ápice da realização humana. Nunca tiveram contato com o mundo real da arte, pois é impossível não se deixar levar pelo belo, que nos faz propender ao que é bom e justo. 

Como podem viver sem conhecer o amor trágico de Tchaikovsky em suas sinfonias? O Destino que assusta o homem em sua 4° e a história de amor que termina em morte em sua Patética? O poder absoluto daquela Abertura 1812, ou ainda a delicadeza de seus balés? 

Como vivem sem ouvir falar de Rachmaninoff, que ao se recuperar de um colapso depois de duras críticas escreveu o que deve ser o concerto para piano mais belo de todos? 

Mahler, que não se deixou limitar pela forma, mas que usou de seus ciclos de canções e sinfonias para expressar toda a complexidade do seu ser. A sua Titã, que conta uma história de amor épica. A sinfonia da Ressurreição, que mostra seu encanto pela tradição cristã. A sinfonia n° 3, com suas impressões do mundo e de n° 4, onde a música dos anjos se sobrepõe a música dos homens. A esquizofrenia da 5°, a tragédia da 6° até culminar na apoteose da Sinfonia dos Mil, que mostra a redenção por meio do amor. Cada uma dessas músicas poderia ser descrita em dezenas de páginas e lágrimas, tamanha a experiência humana por trás de cada uma delas. 

Claro, não posso esquecer de Beethoven e sua Eroica, homenagem aos revolucionários franceses, repleta dessa mesma força capaz de mudar o curso da história. A sua 5°, Destino, poderosa e imponente como o nome. Sua Coral, o ápice da realização humana. Tudo fica oxidado perto dessa grande obra, desse grande hino a alegria. 

Ainda temos Verdi, com seu Requiem, Puccini com Turandot, Strauss e as profecias de Zaratustra e tantos outros nomes... Todos desconhecidos. 

O Belo não tem mais lugar entre nós. O belo que antes era o ideal da civilização deu lugar ao sexo desenfreado e ao sentimento coletivo da traição do sertanejo universitário, reproduzido até a exaustão nas rádios e festas comuns. O belo se perdeu nos livros de História da Arte, e hoje só habita na mente de uns poucos que, como eu, ainda sentem algum apreço por esse que deveria governar as nossas vidas.

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