sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Da Beleza

Das Lied von der Erde 
Gustav Mahler

4. Von der Schönheit

Da Beleza.

Jovens raparigas colhem flores,
colhem flores de lótus na margem do rio.
Entre arbustos e folhas estão sentadas,
juntando flores nos seus regaços e interpelando-se
umas às outras e divertindo-se.

O sol dourado tece as suas formas,
reflectindo-se na água luminosa.
O Sol reflecte os seus esbeltos membros,
os seus ternos olhos,
e o Zéfiro levanta e acaricia
o tecido das suas mangas,
conduzindo a magia dos seus perfumes pelo ar.

Oh, vede! Quem serão estes jovens rapazes
ali à borda do rio, em soberbos corcéis,
ao longe brilhando como raios de sol;
já entre os ramos dos verdes salgueiros
aproximam-se a trote os vigorosos rapazes.

O cavalo de um deles relincha alegremente
assusta-se e parte subitamente;
sobre as flores e as ervas estremecem os seus cascos
pisando, em brusco turbilhão, as flores que se abatem.
Ei! Como se agitam as suas crinas em alvoroço,
e fumegam os seus quentes narizes!

O sol dourado tece as suas formas,
reflectindo-se na água luminosa.
E a mais bela das raparigas dirige-lhe
longos olhares de desejo ardente.
A sua orgulhosa postura é só um disfarce.
No brilho dos seus grandes olhos,
na escuridão do seu olhar apaixonado,
vibra penosamente a exaltação do seu coração.

(Tradução: Ofélia Ribeiro)

Das muitas coisas que os jovens tem em seu coração, uma em especial é inesgotável fonte de inspiração: a paixão.

Paixão que arde em desejo, paixão que até mesmo encontra na natureza sua realização. As flores florescem como um presente de amor aos homens, as arvores crescem como membros altivos a espera de suas amadas a despertar-lhes o gozar. Tudo o que o sol toca é capaz de amar. 

Os jovens enamorados se entreolham, e em seu olhar há todo o desejo de seus corações, que em seus corpos há de transpirar. A beleza é o catalisador dessa paixão. 

Num campo iluminado por poderosos raios de sol um homem cavalga em seu alazão, seus cabelos dourados refletem aquela luz do astro lá do céu. A camisa branca se estende grosseiramente pelo peito forte, os braços duros como aço seguram as rédeas e as veias saltam como se fossem explodir. Os lábios vermelhos como sangue, a pele clara um pouco avermelhada pelo sol, ou seria pela luxúria?

Do outro lado, o linho delicado desliza pelas costas, deixando a mostra uma faixa de pele tentadoramente convidativa. Delicadas mechas deslizam por um rosto avermelhado pelo esforço. Lábios se contraem, músculos se tornam tenros e a respiração um pouco mais forte. 

A visão daquele homem no cavalo é de uma beleza sem igual. Uma vez que seus olhos se cruzam, azul e castanho, a paixão fora arrebatada. Não há mais o que fazer.

Naquele campo, iluminado pelos poderosos raios de sol o amor canta então a sua doce canção, acompanhado pelo ritmo dos gemidos e suspiros, o compasso marcado pelo farfalhar delicado da grama. Mãos que se apertam, lábios que se mordem e ruborizam como sangue, lascívia, amor. Tudo se encontra em perfeita harmonia. 

A natureza em sua beleza se une aquela beleza do amor. 

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