quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

O Enigma da Esfinge

Janeiro finalmente se aproxima do fim, depois de centenas de dias que quase não terminaram, depois de um período tortuosamente longo e árduo, finalmente está acabando. É com o coração aquecido de esperança que espero ansiosamente para acordar amanhã e ver que finalmente estamos em fevereiro. Não que haja algo de especial nesse mês que, aliás, sendo o mês do meu aniversário, eu passo todo o tempo temendo que alguém se recorde desse dia que é para mim tão temido. 

Isso porque o novo, marcado pela passagem do aniversário, é sempre de uma misteriosidade assustadora. Crescer é algo que ainda me assusta, ao passo que a cada dia sinto que conquisto um pouco mais do espaço que tanto desejava quando era criança. Aliás, espaço sempre foi um problema para mim. 

Eu nunca tive um lugar de fala. Esse espaço é tão caro para mim por esse motivo. Ainda que meus leitores sejam limitadíssimos, este é um lugar onde posso expressar-me livremente, sem as amarras cotidianas que normalmente me podam pelo seu absoluto desinteresse. Talvez por isso também tenha escolhido uma profissão cujo falar é essencial: estar a frente de uma sala de aula e falar sobre aquilo que considero importante. 

Talvez o medo que se apresente misteriosamente seja uma constatação íntima que evito aceitar de que, embora conquiste meu lugar de fala, sobre o que exatamente devo falar? Será que tenho algo que realmente seja valioso dizer aos outros, ou apenas é uma expressão pura de sentimentos desconexos que pouco ou nada tem de importante? Por isso o muito que tenho a dizer o faço aqui, onde as paredes silenciosas da rede digital não reverberam os ecos de meus longos devaneios, ansiosamente despejados aqui na formas de meus aforismos e alegorias.

Os anseios de uma alma aflita, de uma mente ansiosa e de um corpo perpetuamente cansado se convertem então em notas de uma longa obra que ninguém se aventura a ler. E tudo bem, o fato de eu tê-la escrito já me é caro o suficiente para livrar-me de muitos pesos que antes me impediam de andar. E, embora ainda cansado, ao menos consigo andar lentamente rumo a algum objetivo que ainda não sei especificar qual é. 

Nessa caminhada eu vou, aos poucos, tentando descobrir quem sou e o que quero de minha vida, de meu futuro. Muito embora eu creia que já não seja mais um rapaz novo o suficiente para apoiar-se em sua tenra idade para fugir da questão essencial da existência, quid, eu ainda insisto em dizer que não sei como poderia respondê-la sem me perder e aporias e solipsismos. Portanto retiro-me aqui, meu jardim particular, onde seguramente posso voltar-me para dentro de minh'alma e assim buscar atender aquele que penso ser o mais antigo dos conselhos: "conhece-se a ti mesmo."

Aqui nesse jardim escuto atentamente a canção da noite, após ter fugido do mundo misterioso lá fora. Em minha caverna a canção de meu coração se prolonga, e as sombras da luz se projetam na parede a minha frente. É aqui que medito aquilo que no mundo se apresenta a mim. É aqui que me refugio das feras que me rodeiam, procurando a quem devorar. É aqui que eu liberto os meus monstros, que danço ao redor do fogo e que corro junto com meus lobos. É aqui que minha real figura se mostra, sendo que aquela que diariamente se apresenta aos homens, tão perdidos quanto eu, não passa de uma máscara criada de modo a evitar perguntas. E tem funcionado, os homens não conseguem me decifrar. Continuo sendo aos seus olhos um mistério tanto quanto o é suas próprias vidas. 

Decifra-me, ou devoro-te! 

A vida urra em meu ouvido, mas a resposta não poderá ser encontrada na tumultuosa cidade. Ali há barulho demais. É na solidão que o verdadeiro barulho pode ser ouvido, e há de ser aqui que hei de encontrar a resposta. A esfinge deseja saber a resposta. Meu Eu anseia em descobrir para que vivo, para que vim até aqui, a essa existência tão medíocre. 

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