terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Do sobrecéu

Altivo ele se ergue das sombras lentamente, vindo para a luz. Sua figura é alta, sua presença de uma imponência ímpar. Seu corpo ergue-se como uma montanha, firme e inabalável e, no entanto, por sobre sua pele encontra-se a delicadeza das flores que crescem num jardim secreto, oculto pela imensidão. 

Essa combinação é de uma beleza impactante. Ao mesmo tempo que mostra-se uma rigidez típica da masculinidade indócil e severa, revela aquela mesma singeleza que espera das mãos de um poeta, cujo punho delicadamente sobre a folha delineia os versos mais sublimes ao observar a beleza da criação. Como uma estátua de um grande herói, cuja superfície é de um toque suave, combinando e si o que há de mais forte e de mais belo.

Sua voz é como um trovão, daqueles de uma agudez extrema, que precedem as grandes tempestades. Ao ouvir sua voz silenciam-se as criaturas, eis a voz dos antigos oráculos, a ecoar pelos templos dos homens anunciando a guia sapientíssima dos deuses. Nereidas e sílfides invejam seu canto. 

Apolo e Dionísio invejam seu corpo. Os grandes heróis sorriem ao verem que seu legado continuará sendo protegido por hábeis mãos, que se movem com precisão cirúrgica sobre as cordas dos instrumentos, com a velocidade de um raio ao cruzar os céus, do oriente ao ocidente, levando consigo todos os olhares. 

A beleza tem o poder de nos levar ao que é bom e justo, ao que é verdadeiro, e a beleza se revela no desnudar das máscaras que nos impedem de ver onde realmente se encontra. Aquela beleza aparente é quase sempre vazia, conduz-nos ao erro, mas a beleza real, ah, essa quando se revela, é de uma magnificência idílica aos olhos dos mortais. 

Como a canção da noite ela [a beleza] vai aos poucos se revelando, crescendo dentro do homem, entrando e lhe hipnotizando os sentidos, conduzindo-o pela mão ao paraíso da verdade, aquele Éden que perdemos com o progresso da ignorância ao nos esquecermos do que foi visto no sobrecéu. O hiperuranio aos poucos se abre, derramando sobre nossas mentes o doce néctar de sua infinitude perfeita. 

Como a canção da noite ela nos deixa paralisados antes sua extrema força. Não a compreendemos de imediato, mas ao decantar-se com o tempo nos recessos de nossa consciência ela aos poucos desperta nosso ser, rememorando-o de sua antiga residência. A observamos atônitos, sem crer ou compreender completamente, mas absolutamente hipnotizados por aquela verdade que só se revela totalmente aos olhos da grande deusa da sabedoria, nascida da cabeça do senhor dos raios. E o faz por meio da beleza encantadora do herói que reina protegendo as criaturas fracas da terra.

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