domingo, 6 de janeiro de 2019

Entre mortos e feridos

Como me sinto? Não sei ao certo. Esperei por um ou dois dias, até que as coisas se acalmassem, até que a maré diminuísse e eu entendesse o que se passou, mas acho que ainda é muito cedo. Eu não só não entendo tudo o que se passou, é como se ainda não tivesse todas as peças desse quebra-cabeças, mas que aos poucos vai se decantando no fundo de minha consciência, e tudo vai se ajeitando, de uma forma ou de outra.

Os últimos dias foram marcados por esclarecimentos, conversas e, penso eu, sinceridade. Coisa que parece ter faltado a mim e a meus amigos ultimamente. Não todos, claro, mas alguns, aqueles que mais necessitavam dela. 

Mentiras foram reveladas, ódios desmascarados, pontos expostos, amores foram confessados. Claro, lágrimas não poderiam deixar de serem derramas, e até algumas gotas de sangue. Minha ansiedade atingiu níveis absurdos na sexta, e quase se repetiram no sábado. Eu me fechei tão profundamente dentro de mim mesmo que cheguei a perder a consciência algumas vezes, tamanho era meu nervosismo em ter uma conversa que por tanto tempo fora adiada, e que tantas coisas envolviam...

Mas ao cabo de tudo isso, depois que as arestas foram podadas, o que me restou? Não sei dizer. 

É certo que sinto uma leveza, como há muito já não sentia. Sinto como se um enorme fardo fosse tirado de minhas costas, e não me refiro a uma pessoa, mas há um comportamento que eu tinha de forçar toda vez graças a um sentimento que não conseguia controlar. É tão verdade que sinto isso que a leveza tem me sido estranha ontem e hoje. Após a nossa longa conversa, eu quase adormeci, pois o cansaço caiu sobre mim imediatamente, após o esforço hercúleo que tive de fazer pra conseguir me manter minimamente altivo naquele momento.

Achei que fosse morrer. Sério, sem exageros. Perdi a conta de quantas vezes perdi o ar e me esqueci como se respirava. Minhas mãos e pés estavam gelados e meu coração galopava como se fosse explodir a qualquer momento. Minha boca ficou branca, e tremia tanto que não conseguia segurar um copo de água sequer. Minha voz se quebrou, não conseguia falar direito e quando falava, a voz mal saía e as palavras demoravam a fazer sentido. 

Mas eu consegui. Eu consegui dizer o que precisava dizer, o que estava aqui engasgado e há muito precisava ser dito. Eu não corri atrás, não abaixei a minha cabeça, não pedi que ficasse, não me humilhei como sempre fiz. Eu consegui me manter de cabeça erguida, apesar de toda a dor, e só isso já para mim uma vitória imensurável. Eu me superei!  

Sei que corações foram quebrados, e eu mesmo continuo em frangalhos, mas ao mesmo tempo é como se minhas cinzas fossem lançadas a terra, para ali crescerem como uma nova árvore, algum dia, quem sabe?

No entanto, apesar de toda essa vitória, eu ainda não sei dizer como me sinto com relação a tudo o que aconteceu. Não está claro para mim se estou contente com os rumos que tomamos. Não estou seguro de que essa foi a melhor forma de resolver... Apenas sei que foi a única solução que encontrei, a saída com menos sangue derramado e, no caso, o sangue seria o meu mesmo. 

Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Acho que assim posso resumir os meus últimos dias. No momento eu só quero me deitar, pois desde sexta que não paro um minuto sequer, e quem sabe depois de descansar consiga entender um pouco mais tudo o que aconteceu... Acho que depois de tantas lutas eu mereço uma noite de sono, com um piano de fundo e a chuva batendo na janela. É, eu acho que depois de tudo isso eu mereço um pouco de paz. 

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