quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Da Juventude

Das Lied von der Erde 
Gustav Mahler

3. Von der Jugend 

Da juventude

No meio do pequeno lago
está um pavilhão de porcelana
verde e branca.

Como as costas de um tigre
arqueia-se a ponte de jade
de encontro ao pavilhão.

Na pequena casa, amigos estão sentados,
bem vestidos, bebem, conversam;
alguns deles escrevem versos.

As suas mangas de seda deslizam
para trás, os seus bonés de seda
travessamente recolhidos no fundo da nuca.

Na calma superfície do
pequeno lago, tudo se reflecte
singularmente, como num espelho.

Tudo está às avessas
no pavilhão de porcelana
verde e branca;

a ponte é como uma meia lua,
com o seu arco invertido.
Amigos, bem vestidos, bebem, conversam.

(Tradução: Ofélia Ribeiro)

Um doce sorriso toma conta dos amigos que se reúnem. Quando se está com quem se ama, esquece-se, ainda que momentaneamente, as dores da vida. 

Até aqueles que são constantemente visitados pelos fantasmas do passado conseguem se perder em meio as risadas, as taças de vinho e as músicas que brotam naturalmente do coração. A alegria doce de uma amizade é talvez a mais pura recompensa do homem que vive. Poucas coisas o fazem feliz como um amigo com quem se pode contar. 

Ali, no meio daquele laguinho, um homem melancólico consegue libertar-se de suas amarras dramáticas, e por um breve instante aproveita com delicadeza aqueles que o cercam. Com gratidão ele canta a beleza dos corpos que o cercam, dos sorrisos que tilintam no ar, das brisa leve que os rodeia. As vestes deslizam, a musica ressoa, a alegria contagia. 

As pétalas das rosas pintam o céu com suas cores, delicadas, e enchem o coração deste pobre homem que encontra uma alegria fugaz em meio aos seus amigos. Algumas lágrimas surgem em sua face, ao ver esse pequeno espetáculo particular, que só tem lugar em seu coração, e que, embora todos os homens ignorem, nele encontra um significado profundo e eterno: gratidão!

Se esses momentos se estendessem pela eternidade os homens saberiam reconhecer a felicidade? Ou será que é apenas no contraste com a melancolia de cada que a alegria encontra significado? Será que a alegria é como um vaso de argila, que embora seja reconhecido pelo tangível, só encontra valor no intangível? 

Não há respostas para a alegria, nem sequer para um sorriso sincero da juventude, mas não importa. A juventude não espera por respostas, apenas quer sorrir, e cantar e dançar, enquanto suas vestes de seda deslizam no ar, abrindo-se para o amor, abrindo-se para a própria juventude.

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