quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Cenários

É impressionante como algumas conversas sugam a gente. Alguns instantes e parece que atraímos pra nós tudo o que preocupava o outro. Se, por um lado, isso alivia o outro de suas preocupações, por outro é complicado sempre absorver tudo dessa forma, e eu me sinto assim, sempre sendo sugado pelo ambiente ao meu redor. Se as pessoas estão nervosas e brigando isso me afeta, se estão preocupadas isso me afeta. Em casos extremos eu chego a ter crises de pânico e ansiedade quando um ambiente está assim, e eu nem sei explicar direito em que plano isso funciona. Não me refiro a planos energéticos, esotéricos ou algo assim, ou se é simplesmente uma inabilidade em lidar com situações de pressão que acabam me deixando tenso e cansado ao pensar demais sem conseguir enxergar uma solução. Não sei, o que posso dizer é apenas isso, que muitas vezes sinto trazer pra mim o que machuca o outro e, sentindo no outro um alívio, sinto minhas costas doerem como se assumisse no meu corpo parte do peso que antes o outro carregava sozinho. E por isso algumas conversas me sugam, me deixam exausto. Por isso em alguns dias eu não tenho mais forças pra ler ou estudar. Por isso em alguns dias, mesmo sem ter feito nada além de conversar eu sinto como se tivesse trabalhado por horas e mais, com a mente cansada como se tivesse resolvido mil problemas, quando na realidade eu só busquei ouvir um pouco o outro. 

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O céu estava cinza claro quando saí pra caminhar hoje e, embora o cinza seja uma cor triste e melancólica, eu não senti que o dia estivesse melancólico, ou melhor, talvez eu não esteja melancólico e por isso o céu tem me dá essa impressão. Acho que estou passando por um novo ciclo, um pouco mais espaçado do que os últimos, já que a depressão dessa vez durou mais de uma semana, e acho que prefiro assim, aquela montanha russa emocional de três ciclos por semana é extremamente cansativa.

Talvez seja resultado da combinação de uma vida mais leve na igreja, mesmo que a contragosto de alguns, com os remédios certos e um pouquinho de exercício físico que adicionei à minha rotina. A depressão veio mais leve, me derrubou, é verdade, mas não com a mesma força de antes, o que mostra que os antidepressivos que foram somados ao meu tratamento têm dado resultado. Pelo menos uma boa notícia. 

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Sabe, ainda me sinto irritado quando penso no que aconteceu, e mais uma vez penso que tomei a decisão certa em me afastar. Eu cansei de ser a pessoa boazinha que os outros veem como o menino de bom coração, sentimentalista, que tudo perdoa e deixa passar. Eu cansei de ser compreensivo, de esconder que me incomodava e ficar por isso mesmo. Sempre era eu o elo mais fraco a ter que assumir uma postura de maturidade e aceitar com resignação tudo que aparecia. Mas dessa vez não, eu não quis aceitar e preferi me afastar ao invés disso, e me sinto bem com isso porque, bem, se aquelas pessoas não valorizavam minha amizade, de fato era o certo a se fazer. Eu não quero ser lembrado apenas como alguém que aceita tudo, quero ser alguém que também se impõe quando precisa, que também diz quando se passa do ponto e não quero mais aceitar. 

De certo modo foi libertador, e o silêncio que sinto agora não é assustador, mas de calma. Em paz. 

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De todos os meus problemas os que mais me incomodam, sem sombra de dúvidas, são os que me deixam mais vulnerável, mais exposto a toda sorte de males: as crises de ansiedade e pânico. As vezes motivadas por algum evento grande mas muitas vezes sem explicação elas me destroem completamente de dentro pra fora, e não é uma destruição lenta, é uma explosão que me consome em chamas e me reduz à cinzas. 

Em noites escuras como essa eu vejo toda minha passar diante de meus olhos, 26 anos sendo um completo inútil, um saco de estrume, absoluta e irrevogavelmente dispensável à humanidade e a qualquer outro. E vejo também meu futuro, viciado, sozinho, sem pai, mãe ou amigos, torcendo pra morte me encontrar na próxima esquina mas covarde demais pra tirar a própria vida. E é quando vejo isso que tudo desaba, que tudo retorna ao nada, que o pânico me consome num dia de ira, me transformando em cinza fria, cinza que voa ao vento, como um nada, cinza que desaparece...

Em noites como essa eu questiono toda existência, minha mente é invadida de perguntas. O que eu teria feito de tão terrível pra merecer esse castigo? E eu me vejo penando no inferno, pagando por numerosos pecados pelos séculos sem fim, e essa visão me desespera ainda mais, e eu esqueço como se respira, como se um demônio pisasse sobre meu peito. Nada do que eu faço pode aplacar o tsunami que vem na minha direção: a chuva não me acalma, a música me faz ficar ainda mais agitado e se eu coloco alguma mais lenta pra tentar diminuir ela faz com que eu tenha ainda mais vislumbres macabros de cenários mórbidos e aterrorizantes, os remédios demoram a funcionar...

Tudo parece tão errado, tão maldito, e eu sem forças pra lutar contra esse inimigo invisível mas que me bate com força, descendo seu martelo em mim, me destruindo, me rasgando, me dilacerando de todas as formas possíveis, como se espetado por uma espada centenas de vezes, rasgado por milhares de agulhas, como se andasse num rio de águas ferventes. Como não entrar em desespero? Como não deixar a mente se desfazer e esfarelar em meio a tanta dor, tantos cenários de morte? 

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