domingo, 21 de novembro de 2021

Jugo de Ferro

É como se eu perdesse o controle sob os meus sentidos, como se concreto fosse enxertado em meus músculos, me impedindo de me mexer, é como se minhas fibras se desfizessem em pó ao menor esforço, quando a ansiedade me ataca, me circunda, me abarca com seus tentáculos num genjutsu de paralisia, e então, de olhos fechados mas ouvidos atentos eu vejo o tempo passar sem que consiga me mexer, sem que meus braços e pernas respondam ao meu chamado. Isso pelo medo sufocante de errar, de não ser bom o bastante, de ser motivo de zombaria

Vaidade? Parece-me que sim, depender da aprovação do outro, querer ser bom aos olhos do outro, mesmo o outro sendo tão medíocre quanto eu. Esse é o pecado que há no fundo dessa ansiedade, um desejo primitivo de querer ser bem visto, algo que eu deveria combater com todas as forças mas que, ao contrário, mina todas as minhas forças, deixando-me inerte, como uma boneca de panos, sem ter como agir, a não ser esperar pelo pior, que vem sem pressa, mas vem de modo irremediável. E então ele me destrói, me reduz ao pó, me faz voltar ao nada. 

Meus braços e pernas parecem amarrados a um pesado jugo de ferro, me sinto prisioneiro do meu próprio corpo, da minha cama, os olhos pesados como se eu tivesse sido proibido de abri-los por uma divindade, a mesma que tornou meu corpo tão pesado que até virar de um lado para outro dói. Faz calor, e eu queria tirar a roupa, abrir a janela, mas nem isso eu consegui fazer, tive de ficar aqui, preso, suando, esperando que, por algum milagre, alguma força fosse enxertada em mim novamente. 

Em minha mente apenas silêncio e escuridão. Mais uma vez. Eu preciso sair mais tarde, mas, como se nem consigo me levantar? Quem me pede ânimo não tem ideia de que não é uma questão de simples desânimo, mas de não ter sequer forças pra erguer um braço, pra tirar o inseto que passa zumbindo perto da minha cabeça. É como se meu corpo simplesmente parasse de obedecer, como se as cordas que me sustentam nesse grande teatro de bonecos fossem cortadas. Como se meu ser fosse esmagado pelo peso do oceano, como se uma mão invisível me pressionasse com força titânica contra o chão. É o peso do mundo sobre as costas de alguém que não é Atlas. Não sinto a vida, ou uma brisa, não sinto mais nada, apenas peso, silêncio e escuridão. 

Essa não é uma crise depressiva comum, é mais do que isso, é uma condenação, é o atormentar de um demônio, é uma prisão dentro do meu próprio ser. E aqui é assustador. 

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