terça-feira, 2 de novembro de 2021

No espelho

Essa é uma tentativa de descrever, com o máximo de detalhes possível, o que se passou comigo nos últimos dias, que têm sido marcados por uma crise hipomaníaca mais forte e mais demorada que as que costumo ter. 

Bem, estava eu tranquilo num propósito de investir esse tempo sozinho em mim, aproveitar essa época em que, após meu diagnóstico e adaptação de tratamento eu venho entendendo um pouco mais das variações de humor que antes me eram tão misteriosas e, também por isso, tão desgastantes. 

Eu não tenho conseguido olhar na cara de uma das pessoas que mais me eram caras, e eu sei bem que isso só aconteceu porque eu estava no meio de uma crise maníaca no dia que recebi uma notícia chocante, se fosse numa depressão eu apenas engoliria porque não conseguiria sentir nada. Mas eu senti, e senti muitas coisas com uma intensidade muito grande. Isso me marcou muito negativamente e agora, mesmo mais calmo mas ainda em alta voltagem eu não consigo pensar em me reaproximar e só de pensar nisso sinto meu sangue ferver...

Isso aconteceu num momento em que eu estava confortável com a minha solteirice, algo que antes sempre me incomodava e, após uma boa conversa com um amigo eu estava vendo isso realmente como um bom período pra conseguir colocar a mente em ordem e, só então, me sentir confortável pra ir atrás de alguém. Estava realmente bem com isso. 

Mas a minha briga e consequente afastamento deixou um buraco, uma vaga, um espaço vazio que, ao conhecer uma nova pessoa eu sem querer já me vi colocando-a nesse lugar. Foi automático e, mesmo sabendo o que eu estava fazendo eu não conseguia parar. E esse menino, que eu vi por menos de três horas e com quem conversei meia dúzia de vezes de repente estalou como uma luz, alguém que poderia ser as duas coisas que eu queria, amigo e amante, mesmo sem ter absolutamente nenhuma razão plausível pra pensar isso. Era só alguém na multidão que eu conheci por acaso e que, num dia de loucura, num acesso de luxúria eu idealizei desse jeito.

E quando ele não me correspondeu eu simplesmente surtei numa nova onda de ódio, quando na verdade estava, o tempo todo, projetando nele o que queria do outro, sejam as expectativas ou as decepções, o que era uma completa loucura. Foi um tipo de efeito rebote, compreensível em pessoas emocionalmente estáveis, o que é claro pra mim agora, mas não era ontem a noite. 

Lendo o que escrevi ontem eu sequer consigo acreditar que fui eu mesmo a ditar aquelas palavras, tanto ódio, tanta decepção, tanta dor impressa porque eu projetei nele o que queria do amigo de quem me afastei e comecei a fantasiar que nossas conversas, a maior parte sobre opiniões em comum na igreja, nada além disso, e eu transformei numa coisa imensa que me desestabilizou ontem de um jeito que eu não posso permitir que aconteça de novo. 

Isso só mostra o quanto eu preciso desse tempo pra mim mesmo, pra aprender a me controlar, a não ver coisa onde não existe, a não surtar tão fácil... Eu preciso ser melhor do que isso, maior do que minhas próprias crises. 

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