quinta-feira, 4 de novembro de 2021

O silêncio que se fez

O céu brilha azul, vivo, e mesmo assim algumas gotas de chuva caem, num contraste interessante. De repente eu não ouvi mais nada, estava instaurado o silêncio. Minhas forças minaram ontem à noite quando, depois de dormir o dia todo, eu ainda me sentia cansado, e então percebi que não era cansaço. Hoje, quando acordei tudo o que senti foi um grande vazio se abrindo dentro de mim, como se um abismo se abrisse no meu peito e me engolisse por completo na escuridão. De repente, o nada havia voltado, e tudo retorna ao nada. 

Consegui prolongar a hipomania por mais alguns dias com exercícios e uma boa dose de positividade. Ou será que não foi obra minha mas apenas a depressão esperando um pouco mais pra voltar? Talvez tenha sido uma graça, pra que agora eu cante como Simeão: Deixai agora vosso servo ir em paz, ó Senhor!

Não quero responder as mensagens, não quero prestar atenção nas puladas de cerca do meu pai, não quero ligar pra resolver as burocracias da renovação da minha CNH, não quero existir, só quero dormir e, se possível, não tornar a acordar ou só acordar quando puder ver o brilho do sol novamente, ou quando a força retornar para as fibras do meu corpo, me fazendo caminhar mais uma vez. Até lá, eu não estou. Estou apenas lidando com o caos que se tornou meu interior. E isso já me toma todo tempo e toda disposição que, aliás, ela mesmo me roubou. 

De repente se fez silêncio
escuridão e trevas
o nada se abrindo em abismo no meu peito
um vazio no lugar onde estava a essência
a melancolia de volta ao seu trono

Me convocando
e eu gemendo prostrando e me perguntando
e eu, pobre, que farei, que patrono invocarei, 
depois de tantos pecados
restando apenas olhar o céu nesse dia lacrimoso.

Eu sei, que não podemos esquecer o passado
não podemos esquecer o amor e o orgulho
porque isso vai nos matar por dentro
e tudo retorna ao nada
e tudo começa a desmoronar

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