domingo, 7 de novembro de 2021

Máxima Forma

Para além das grossas nuvens de chuva que se estendem como uma luxuosa pintura barroca acima das colunas cor de creme formadas pelos prédios que dominaram a cidade eu recupero um pouco do fôlego. O fim da tarde ameniza um pouco do calor que imperou durante o dia. Não só ao calor mas também aquela sensação de que este dia não foi vivido, de que apenas existi em cima da cama, rolando de um lado pro outro e folheando algumas poucas páginas dos livros que estão ávidos para serem devorados por uma inteligência mais capaz do que a minha. 

No player eu estou repetindo Omoide Ga Ippai (parte da trilha sonora de Ranma 1/2, um anime ótimo que pouca gente no Brasil viu) uma balada japonesa que remete às discotecas e a influência dessa cultura na música nipo, me agradando o ar de nostalgia que todas as músicas estilo flashback trazem. 

Caminhando por entre a Avenida das Palmeiras eu pensava nos últimos dias, em como tenho conseguido mais ou menos manter o mínimo de controle sobre meu ciclo, mas também nos descontroles recentes. Pensei nas mensagens que mandei sem a devida reflexão e que nunca deveriam ter sido lidas por ninguém. Infelizmente a minha melancolia não é do tipo introspectiva e eu sou comunicativo demais para manter meus pensamentos só pra mim. As muitas páginas que aqui despejo são prova disso. 

Será que isso é o início de um tempo de tranquilidade em relação a minha saúde mental? Ou só um crise mais fraca antes da grande tempestade? O pessimismo também não pode ser mantido só pra mim, precisando ser dito, quase gritado, por mim que já não consigo mais acreditar no amor mas, ao mesmo tempo, não deixo de me levar pelas paixões. Alguma parte de mim ainda é fraca para demonstrações de gentileza que, não sendo mais do que isso, me encantam e ativam a parte do meu cérebro que me faz ter sonhos delirantes sobre o futuro e que aparentemente trabalha mais do que todo o resto do órgão junto. 

Um sorriso, um cumprimento fofo na pista de exercícios, um olhar sem intenção alguma, tudo dispara em mim um gatilho de onirismo poderoso, me arrebatando da realidade para um mundo que, de fato, só poderia ser produto da mente de um maníaco-depressivo ou de alguém sob efeito de drogas, o que as vezes me inclui também, já que os remédios pra dormir são minha constante fonte de inspiração para os escritos mais desprovidos de sentido, como minha rotina não tem sentido algum, sendo apenas uma pequena bolinha de ordem (a parte ainda lúcida do meu ser) flutuando num oceano caótico e abissal.

Na internet pululam mensagens sobre aproveitar a vida, o carpe diem que sempre aparece quando alguma celebridade morre e eu percebo que, de certo modo, segui a maré e resolvi fazer a mesma coisa, afinal beber e tentar se sentir um pouco vivo é também uma forma de disfarçar o desespero da morte com um pouco de alegria, ainda que efêmera e pequena como uma garrada de bebida. É a magia da bipolaridade em sua máxima forma, melancolicamente ativo. 

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