sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Expressões de Impressões

 "Estar sozinho nunca me pareceu certo. Às vezes me senti bem, mas isso nunca me pareceu certo." (Charles Bukowski)

Acho incrível quando uma frase da literatura é capaz de sintetizar uma experiência humana que eu mesmo experimentei, como essa do velho Bukowski que, de certo modo, condensa uma série de vivências minhas em umas poucas palavras que tentarei desenvolver um pouco mais aqui. 

Tenho experimentado essa solidão agradável, mesmo que ela ainda me incomode sob certos aspectos. Tenho me sentido bem assim, sem precisar ir atrás de ninguém e nem implorar por afeição ou carinho. Tenho me sentido satisfeito em ouvir a chuva ou aproveitar uma tarde sozinho no quarto escuro, e isso por si só já infinitamente melhor do que aquele desespero que sentia em ter alguém ao meu lado, construir uma história de amor, por mais idealizada que fosse, e tanto mais idealizada mais machucava o seu contraste com a realidade. 

Por isso a aceitação dessa condição, que eu agora sei que não é passageira mas intrínseca ao meu ser, tem me dado certo conforto. Isso porque me aceitei como alma solitária, como alma que vaga sem encontrar pares ou semelhantes. Aceitei que algumas pessoas são assim, vivem suas vidas sem nunca encontrar quem as compreenda. 

Há alguns dias falava com um amigo sobre as pessoas que esperamos, ele que busca uma mulher que consiga passar pelas tribulações ao seu lado, acho que pode ser perfeitamente possível que ele encontre, que ele consiga alguém que se esforce o suficiente para suportar as mudanças da vida e a dor que elas trazem. Mas, no meu caso, isso seria uma pessoa tão idealizada que somente pode existir aí, no mundo das ideias, não havendo par para mim nesse mundo. E aceitei isso, mesmo que o aceite como uma exceção, uma espécie de arremedo de existência, algo como uma imperfeição fundamental na base do meu ser. 

Pessoas ideais não existem, existem pessoas esforçadas que se encontram e se esforçam juntas e pessoas que devem viver sozinhas, essa é realidade das coisas, bem simples na verdade. As primeiras vivem, as outras contemplam e escrevem. 

X

Não é como se eu já não soubesse que seria assim, sentir esse vazio depois de um encontro com um estranho da internet. De fato o sexo fácil não é nada mais do que isso, algo que de tão fácil se tornou banal, sem significado algum. Nem sequer serviu pra me aliviar, eu não estava no limite. Não serviu sequer pra virar um texto decente aqui, não sendo mais do que um brevíssimo aforismo. Foi apenas um momento que, esperava, me deixasse mais animado, mas só serviu pra cansar meu corpo e me deixar ainda mais desanimado. Foi só mais uma tentativa, fútil e tosca, de preencher o vazio.

Acredito que seja de fato o momento propício a me deter um pouco, pensar mais nos motivos pelos quais eu me submeto a essas experiências, para então conseguir me entregar a alguém. Preciso me conhecer mais, amadurecer mais, curar minha carência que me faz buscar nos outros o que falta em mim, para só então conseguir caminhar ao lado de alguém. Ao lado, nem atrás e nem a frente. 

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Até quando vamos suportar essa humilhação? Até quando a nossa dependência financeira vai significar o abandono da nossa dignidade? Como eu gostaria de ter a força necessária pra mudar a nossa situação, como eu gostaria de ter algum controle sobre meu destino, como eu gostaria de não ser tão passivo, de poder transformar, de poder lutar, mas eu não consigo. Eu não sei voar, não sei flutuar nas nuvens, não sei lutar, eu me afogo no mar, quando penso que aprendi algo a vida me mostra que na verdade eu não aprendi nada, eu não sei mais nada... 

Se eu quero algo eu deveria lutar por essa coisa. Se eu, por exemplo (sendo bem banal porque o remédio já me impele a ser mais objetivo) tenho certo ideal de beleza eu devo fazer o que está dentro das minhas possibilidades pra me aproximar o máximo possível dele. Deveria fazer a barba mais vezes, usar mais maquiagem, fazer a limpeza de pele com mais frequência, usar de forma correta os produtor de skincare. Mas eu não faço isso, apenas me lamento, apenas reclamo esperando que, num delírio de onipotência, tudo se resolva magicamente. 

Tudo o que posso fazer é ir no meu próprio ritmo, tentar fazer o que der, mesmo saindo tudo errado, mesmo sabendo que qualquer um poderia fazer melhor. Tudo o que posso fazer é caminhar devagar, parar de vez em quando, olhar pro céu numa prece e voltar a andar.

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A primeira parte, sempre a mais difícil, eu consegui fazer, um passo pequeno como fazer a barba, mas logo as forças terminam, logo me sinto cansado demais pra continuar e aquele ideal de beleza que eu tanto queria alcançar permanece apenas isso, um ideal, distante demais pra ser alcançado, longe demais do alcance de minhas mãos. E então eu os observo, sonhador, esperando que me apareça uma solução, que possa me aproximar daquela beleza divina, daquela perfeição que me parece tão distante... Sou vítima fatal das minhas próprias idealizações. Seja estética ou afetiva o padrão que criei não existe ou simplesmente não pode ser atingido por mim. Meu realismo se exprime no pessimismo destas constatações.

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