quarta-feira, 10 de novembro de 2021

O que querer

"Cómo hacer pa’ no tenerte
Las ganas que te tengo
Cómo hacer pa’ no quererte, yey"

Uma dessas musiquinhas chiclete da internet ficou grudada na minha cabeça e eu agora fico cantarolando por aí a ponte, o que seria uma coisa normal se esse trecho não correspondesse exatamente ao sentimento que tem me dominado nos últimos dias. 

É como se de repente meu coração fosse arrebatada por esse garoto que eu acabei de conhecer e com quem fiquei menos de duas horas ao lado, mas ainda assim, algo nele me atraiu de um modo assustador. 

Mas eu sei que isso é causado apenas por uma carência momentânea, que eu estou tentando preencher um vazio que já existia, e que foi alargado pelo afastamento de meus amigos. É apenas isso, mas saber disso não o torna menos real, só me torna mais consciente da minha estupidez e da minha fraqueza. 

Meu ardente coração quer dar-se sem cessar mas deveria contentar-se em contemplar o belo. Oh quão distante estou desse ideal, já que meu coração fraco insiste em se desviar do belo, do justo, bom e verdadeiro e sempre recai nas paixões do corpo, nas potências mais baixas da alma, naquilo que há de mais próximo dos animais. 

E é assim que me sinto, bestializado pelos meus próprios sentidos, domado pela minha luxúria, em busca dos prazeres venéreos e ignorando a vida eterna. É assim que me sinto. E, se ao menos eu, ao sentir isso conseguisse realizar esses desejos, mas nem isso, fico apenas no desejar, no querer, sem jamais poder tocar, nem a beleza verdadeira e nem a beleza efêmera desse mundo carnal. 

Como queria ser cego pras coisas desse mundo que não são a beleza verdadeira, como queria não me deixar afetar desse modo por uma paixão tão baixa assim. Como queria almejar apenas as belas artes, aquilo que de melhor há mesmo feito por mãos humanas, e não apenas desejar ardentemente um alguém apenas porque me sinto carente e incompleto, porque alguma parte de mim se quebrou e eu sinto que preciso de alguém para me ajudar a remendar. 

Com o coração como que ferido por uma seta, ou um punhal, eu almejo quem possa me ajudar a curá-lo, mas bem sei que ninguém aqui na terra possui o unguento capaz de sarar tal ferida. É ferida de outro mundo, não se cura com remédio que passa.

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