sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Estações

Eu sinto o tempo passar, como se as estações de mais um ano passassem ao meu redor na velocidade de um raio. Sinto o tempo passar e a responsabilidade que eu deveria carregar aumenta, mas eu não a carrego, outros a levam por mim. E eu vejo as estações passarem e eu envelhecendo sem a honra de crescer conforme passam o anos. Continuo fraco, continuo dependente, continuo medíocre.

E o tempo não cessa de girar, o faz de forma vertiginosa, já sinto os anos na minha pele mas não consigo ser o que esperam de mim. Isso é mais do que deprimente, isso é paralisante, me causa vergonha, me causa nojo de mim mesmo. 

E eu continuo aqui parado, enquanto o tempo passa, enquanto as estações giram ao meu redor, enquanto meu pai levanta de madrugada pra trabalhar e complementar a renda, enquanto minha mãe faz tudo dentro de casa, enquanto eu não faço nada além de virar de um lado para o outro tentando aliviar o calor. É patético de se ver. 

Para quê tanto tratamento? Para quê tantos remédios para recuperar a vitalidade de alguém que já morreu? Não mereço viver, eu sou menos do que um homem, eu sou um inseto, alguém que merece ser esmagado, apagado da existência. 

Eu me envergonho de quem sou, mas não tenho comigo forças para mudar. Eu vejo o tempo passando ao meu redor mas não consigo me mover, não consigo levantar a mão, não consigo dar um passo. 

Consegue imaginar o quanto isso é deprimente? Perceber que sua existência não tem valor, que você é apenas um desperdício de espaço, que você faria mais bem a todos se simplesmente deixasse de existir? 

É assim que eu vejo o tempo passar. E eu me vejo cada vez mais distante. 

Um continente de distância, um universo inteiro. Distante da beleza verdadeira daqueles que são meu ideal, distante do amor, distante da independência, distante de tudo que possa fazer algum sentido nessa vida. Distante de me sentir vivo, distante, enquanto passam as estações. 

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