quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Aforismos

É como se eu já fosse um homem de meia idade, e não um jovem de vinte e seis anos, mas eu não sei o que deveria ver quando penso no meu futuro, e já falei sobre isso há alguns dias, mas é como se meu futuro não existisse. 

Vou conseguir voltar a dar aulas mesmo com todo o pânico social? Vou encontrar alguém pra caminhar ao meu lado? Vou finalmente conseguir ser independente? 

Não há resposta para essas perguntas e quando penso nelas eu me deprimo, me sinto incapaz de fazer aquilo que tantos outros fazem com naturalidade. Me sinto triste e sozinho ao pensar nisso. 

Não queria ser tão fraco, não queria ser tão sozinho, mas ao fechar os olhos eu ainda o imagino comigo, forte, altivo, segurando a minha mão e sorrindo de um jeito doce. Me trazendo segurança, dizendo que vai ficar tudo bem. É meu devaneio, mas eu sei que hoje eu não seria capaz de suportar um relacionamento. Ao mesmo tempo o meu coração continua ardente e quer dar-se sem cessar. Vivo essa dicotomia no meu peito e me sinto cada dia mais sozinho.

Eu já deveria ter me acostumado a ser só, mas aquela parte do homem que precisa do outro também fala alto. E não gosto de me sentir carente, mais vulnerável do que o normal, assim como não gosto de me explicar pois, por mais que eu diga as pessoas parecem não entender e escutam apenas o que lhes convém, e eu fico a falar para o nada. 

Mas é o que sinto. E queria não sentir. Sinto muito por sentir demais, ao mesmo tempo que já não sinto mais nada.

X

As coisas acontecem numa velocidade superior a que eu possa acompanhar, e eu olho ao meu redor tudo o que preciso ou gostaria de fazer e percebo o quanto não sou bom em nada. Num primeiro momento isso parece apenas um lamento de quem não tentou nada, mas na realidade eu tentei, tentei sim, e descobri que não tenho aptidão nenhuma, que meu único talento é o de me lamuriar constantemente e repetidamente com as mesmas palavras. 

Eu não consigo subir ao monte, senão que sempre volto ao sopé, rolando e me machucando no doloroso processo que é perceber que essa vida não foi feita para mim, e que eu a vivo por usurpação, é assim que me sinto. Eu vivo sem vontade enquanto muitos lutam pela vida e eu queria dar a eles a vida que me resta porque dela eu não quero mais nada, já vi o suficiente para não desejar nada além do céu, além do fim dos tormentos dessa vida. 

As palavras passam diante de meus olhos sem que se fixem na minha mente. A música passa por meus ouvidos sem se deixar impregnar como antes, o mundo muda e eu mudei com ele e já não me reconheço mais. Seguindo o ciclo da samsara eu me vejo agora sozinho como estava antes, muitos anos atrás, anos que se seguiram a um Eu rodeado de pessoas e que, no entanto, ainda sentia-se sozinho e triste, e parece-me que essa é a realidade última do homem, ser sozinho e triste independente de onde e com quem esteja. 

Mas eu ainda queria emagrecer, ser um pouco mais inteligente, para assim melhor me apresentar aos outros e talvez não me sentir tão só, e mesmo sabendo a ilusão por trás dessas crenças eu ainda me apego a elas porque foi tudo o que me restou. Mas isso é ainda numa perspectiva terrena, onde tudo é visto por uma lente de melancolia, ainda há, ao fim de tudo, uma luz que me guia com mais clareza que a do meio-dia, ainda que, no presente momento, para todos os efeitos, me encontro completamente perdido em minha própria hipocrisia. 

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