sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Vulnerável

Enquanto pego o computador e começo a escrever olho para a televisão e o telejornal mostra uma reportagem sobre jovens que se formaram e, ao não conseguir um emprego, abriram o próprio negócio, atingindo ótimos resultados, realmente se dando bem no mercado empresarial. 

Nem preciso dizer o quanto isso me deprimiu. Abrir um negócio? Eu nem consigo sair da cama por dias, como poderia pensar em algo desse tipo? 

Mas enquanto isso o tempo passa, meus pais envelhecem e eu continuo dependendo deles, e se conseguir um emprego de professor que seja, como vou me manter só com isso? Parece-me irreal demais.

Um gosto meio amargo me sobe à boca, uma ânsia, a ansiedade crescente, talvez eu tenha uma crise de pânico mais tarde, e eu tenho medo disso. Como fui ficar tão vulnerável? 

Eu me olho no espelho e preciso fazer a barba, também preciso fazer as unhas e aparar os pelos de outras partes, mas eu não tenho coragem pra nada disso e simplesmente vou adiando. Assim como adio a minha decisão de tomar a quantidade certa de água todos os dias, ou de tomar as vitaminas corretamente para não ficar doente com a dieta rigorosa que tenho feito pra, no mínimo, recuperar o que peso que tinha antes de engordar tanto por ficar em casa e descontar as frustrações na comida. 

Queria conseguir levantar antes do nascer do sol, tomar um suco feito de folhas e trabalhar avidamente, em dois empregos que fosse, e conseguir algum dinheiro, mas dinheiro de verdade, pra viver e não apenas pra sobreviver. 

Acho que nem isso eu posso dizer que estou fazendo atualmente, não estou sobrevivendo, estou subsistindo da maneira mais patética e deplorável, como um parasita, e a cada dia me sinto pior, os remédios parecem não fazer nenhum efeito, droga, eu só queria ser como todos os outros, forte como os outros. 

Parece-me, no entanto, que quanto mais forte eu gostaria de ser mais fraco eu me torno, e mais fico preso, mais me sinto morto. 

Olho pra cima e o que vejo? vários frascos de remédios. Remédio para dormir, para depressão e para emagrecer, um relaxante muscular e também algumas vitaminas, parece que a minha vida gira em torno de pílulas e comprimidos, mas por qual motivo parece que nenhum deles faz efeito? Até o remédio pra dormir, tão companheiro, não funciona mais sozinho, carecendo de toda uma plêiade de outros que eu tomo junto pra me apagar e assim poder me sentir um pouco melhor no dia seguinte. E eu me sinto, quando durmo ainda é o único momento em que tenho paz, em que não me sinto inferior e vulnerável e, mesmo assim, é o momento onde se explicita a minha maior vulnerabilidade. 

"Estamos por demais mortos para viver e vivos, para morrer." 
(Byung Chul Han)

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