segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Sentido

Dias assim são os melhores, dias de sono, dias em que não preciso ver ninguém, pensar em problemas, só me entregar a letargia obscura, de braços abertos ao feitiço curativo do torpor. É melhor quando não faço nada, quando não digo nada, quando apenas o mundo segue em frente e eu continuo dormindo. É assim que as coisas deveriam ser. Quando eu não interfiro em nada as coisas dão certo. Não há expectativa, não há obrigações, há apenas a profundidade do ser. E é só isso. O deus do sono é um dos deuses mais lindos. 

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Fiquei feliz simplesmente por estar perto de você. Não temos intimidade, não temos muito sobre o que conversar, mas simplesmente fiquei feliz por estar ali, e você estar por perto, com um sorriso tímido. Eu sou bobo por isso, uma coisa tão simples assim, mas me deixou feliz, uma pequena alegria em meio a tanta escuridão. Para quem habita nas trevas, o menor sinal de luz é fonte de esperança, mesmo que seja num oceano escuro basta ela estar lá para fazer brotar a esperança no coração. Será que meu afeto pode tocar você como seu sorriso me tocou? 

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Eu não quero ler nada, os livros se acumulam em toda parte do meu quarto, parece que eu sou incapaz de reter o que quer que seja em dias assim. Não quero estudar e nem ouvir sobre coisas elevadas. Não quero conversas profundas, quero apenas me dedicar as histórias de amor ou me entregar de uma vez por todas ao sono que me encanta como o canto de um sereia me convidando para sua alcova mortal. Quero perder tempo com frivolidades, ouvindo musica, sonhando, perdido em devaneios em infinitas reticências. 

Eu só não quero contato com a realidade, isso é um crime? Estou muito errado em querer fugir pra um mundo de fantasia? Eu não aguento a sobrecarga da realidade, não suporto olhar pro mundo sem as lentes que me fazem crer que algo possa ser belo, que algo possa dar certo, porque olhar para o mundo com os olhos nus é ver a realidade crua demais pra mim, e é algo que eu não suporto. 

Umas frases soltas de músicas flutuam na minha mente, algumas tristes e outras mais felizes, e eu me sinto perdido em meio a elas, como se minha mente não conseguisse processar tanta informação, mas não é uma sensação ruim, é como se a musica me levantasse, me fizesse flutuar e eu pudesse me desprender das amarras que me prendem a esse mundo. Isso não faz nenhum sentido, e digo isso com um sorriso irônico nos lábios, mas é assim que as coisas são. E assim elas vão me levando, tal qual o canto da sereia, para um mundo onírico onde eu posso viver livremente. 

As minhas palavras podem não ter sentido mas, se a realidade não é obrigada a fazer sentido para mim por qual razão eu teria que fazer sentido pra ela? Manter-me acordado pra entender a realidade tem sido demais pra mim. 

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Minhas noites têm se resumido a me cansar, a fiar acordado o máximo que posso para então adormecer sem me entregar ao desespero que há presente no meu peito. Se me deito cedo ele me domina, me destrói. Se estiver cansado o suficiente para dormir assim que chego na cama eu consigo descansar, e assim tem sido, noite após noite, sem que ninguém saiba, uma batalha silenciosa contra o desespero, contra o pânico e o terror que eu temo durante a noite. 

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Parece que já senti tudo o que poderia sentir e que agora só sinto versões menores do que senti antes. Isto é, sinto menos do já senti, e não consigo sentir senão uma profunda descrença e desesperança sobre tudo. Isso porque olho ao meu redor, os amigos que ficaram, as visualizações, as pessoas que me cercam e isso me dá uma ideia do quão pequeno eu sou, do quão dispensável e eu penso mesmo que não faria diferença se não existisse, talvez fosse até melhor assim. 

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