quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Reforma

Com frequência, ao ter contato com escritos espirituais ou doutrinários, é comum que nossa mente se povoe de pessoas que conhecemos e que ignoram aquelas verdades ali expostas. Ao ler um tratado sobre oração, por exemplo, nos recordamos de quantas pessoas estão distantes dessa realidade e que por isso se apartam dos tesouros ali escondidos. Mas, não desmerecendo o valor da ira contra as verdades divinas ali reveladas, esse talvez não seja o movimento da nossa mente que deveríamos incentivar.

Acontece que antes de apontar o que o outro erra e o que ele ignora ou não deveríamos nos confrontar com o quê daquilo nós mesmos ignoramos, e justamente por isso assumimos a posição de ataque, porque encontramos em nós e no outro o erro, mas é mais fácil querer consertar no outro o erro que se imprime em nós. 

Quisera eu conseguir corrigir tudo o que há de errado no meu jeito de ser antes de apontar quem aparentemente nem está tentando, não por ser eu melhor do que eles, mas porque eu sendo responsável pela minha própria alma não posso fazer muito pelo outro além de breves admoestações que, se não foram solicitadas, nem sequer surtirão algum efeito. 

Claro, não podemos desprezar a existência do pecado por omissão, mas também não podemos nos tornar negligentes com nossa própria realidade. E aqui nem sequer cabe que eu use o plural: eu não posso me tornar negligente com a minha realidade. Se aquilo, de algum modo, fere meu sentido de verdade é porque algo em mim mesmo aponta que vivo uma realidade contrária aquela ali apontada. Com efeito a única alma que eu posso sujeitar a vontade divina é a minha. 

Que eu consiga ser um grande reformador, a exemplo de grandes mestres como São João da Cruz e Santa Tereza, mas da minha própria alma e, só então aí, se o conseguir, que possa tocar outros com meu testemunho, coisa de que duvido ser capaz dado o tamanho dos meus pecados e a da minha falta de virtudes. 

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