segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Onde não há paz

"O inimigo persegue a minha alma, ele esmaga no chão minha vida e me faz habitante das trevas." 
(Sl 142)

Eu só queria dormir um pouco, escapar da realidade como habitualmente, mas até essa pequena consolação me foi tirada. Parece que eu não mereço tranquilidade nem no meu próprio sono. Parece que não existe lugar para mim no mundo, onde quer que esteja estou desalojado, estou exilado nessa terra de males e de barulhos, onde demônios lutam em bravas batalhas indefinidamente. Me sinto no mundo das bestas que guerreiam, onde não há paz, há somente asuras, ira, orgulho, paixões desenfreadas. 

E eu desejo me purgar desse mundo. Desejo mais do que tudo me libertar dessa experiência terrível, desse mundo opressor que me sufoca e que me golpeia por todos os lados. Queria dormir e não mais acordar, me perder na eternidade do não-ser, flutuar indefinidamente no oceano do vazio, sem ouvir os gritos e s golpes de espada daqueles que batalham. 

Mas ao que parece enfrento já aqui minha condenação. Sem alento, sem consolo, sem paz, apenas uma alma inquieta que perece diante do próprio vazio e dos demônios que a rodeiam procurando devorar. E eu que cá habito essa terra de males só posso gemer enquanto sou destruído, esmagado, contínuas vezes por meus inimigos que tentam tirar de mim as únicas e parcas alegrias. 

E ninguém sabe o inferno que é estar desperto o dia todo para mim. Ninguém entende que os únicos momentos em que consigo apaziguar as chamas que constantemente abrasam o meu ser é quando durmo ou mergulho nas histórias de outros mundos, de mundos felizes porém irreais. A única felicidade real que eu tenho é a do sono, aquela que querem me privar. Querem me matar, e eu não os culpo por isso, pois eu também quero morrer, mas só queriam que o fizessem rapidamente, sem prolongar ainda mais meu sofrimento, que já aqui parece eterno. 

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