segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Minha Lógica

Já se tornou um hábito que as segundas sejam dedicadas a preguiça, a minha fuga particular, a uma trilha sonora triste e a aura melancólica de um dia movido a Rivotril e Zolpidem. Já se tornou um hábito que eu não viva todos os dias, que eu até ignore minha própria existência, porque é mais fácil assim, é mais fácil ignorar do que enfrentar de frente tudo o que acontece ao meu redor sem que eu consiga acompanhar. E o que eu consigo acompanhar?

Consigo acompanhar os lançamentos de séries BL, algumas histórias de amor, consigo acompanhar músicas que me façam sentir um pouco mais vivo, coisas assim, completamente alheias ao mundo real. Pra um estudante de filosofia eu estou bem distante da realidade, e acho que não conseguiria fazer as coisas serem diferentes. 

Isso porque ao examinar aquilo que está no meu núcleo eu vejo vazio, a ser preenchido com as experiências adquiridas dessas histórias. É como se com elas eu fosse compondo o meu imaginário, e fugisse para o mundo delas, um mundo distante do meu, um mundo onde os universitários usam camisas brancas e gravatas, onde os apartamentos são bonitos e bem iluminados e onde o amor pode cruzar seu caminho na próxima esquina, é assim que esse mundo é, bem diferente deste em que vivemos, onde percebemos apenas o interesse no mais superficial e tudo o mais resulta em bloqueios nas redes sociais e indiferença. 

Me perdi nesse mundo porque a realidade é feia demais, e não aguento olhar pra fora pela janela do meu quarto, ainda que meu vizinho seja lindo, mesmo nem olhando na minha cara. E eu olho no espelho e também não consigo gostar do que vejo, e nas fotos menos ainda, então esse mundo irreal e, ao mesmo tempo, a única realidade que eu consigo suportar, tem sido o mundo onde eu consigo viver. Seja olhando pela janela ou no espelho as visões são repugnantes, assustadoras. 

As vozes doces são também como o canto das sirenas para mim. Atualmente vozes como a doce melodia do Mark Siwat, a alegria contagiante do Khaotung Thanawat, a delicadeza do Mix Sahaphap, a incrível energia de The Rose, a autoafirmação de Holland e a aura meio mística de Utada Hikaru e outros têm me feito companhia nesses dias brilhantes e, ao mesmo tempo, cinzentos. Isso porque o que me cerca é chato e provoca em mim profundo desinteresse, e nada que não diga respeito a beleza me entretém a atenção. Por isso prefiro o furor rápido dos remédios seguido das longas horas de sono profundo, onde nem mesmo os sonhos interferem. Eu fujo da realidade pra me encontrar e suportar a realidade, e o que mais eu poderia fazer? 

E é isso que tenho a dizer. Se busca verdades eternas eu não posso ajudar, tudo em mim é fugidio e passageiro, estou eternamente do outro lado da plataforma de trem que parte sem nunca voltar, esperando que ele apareça, mesmo sabendo que ele não estaria num lugar como esse. Eu só tenho a oferecer as histórias de amor pois, apesar de toda a descrença ele ainda é a única força motriz que me faz seguir em frente mesmo depois de ter desistido de tudo. O amor, ainda que na irrealidade da televisão, ainda me faz seguir. 

X

PS.: Queria ter nascido em outro lugar, e talvez as coisas fossem diferentes pra mim. Tailândia ou Japão quem sabe, queria ter nascido bonito como os semideuses que vejo na internet, que não parecem ter formas humanas, são perfeitos demais pra isso. E eu? Feio e gordo, burro e deprimido. Talvez fosse mais fácil, não ser tão desprezível quanto eu. Sempre o amigo, o mestre, mas nunca o amor, nunca o melhor amigo, nunca o melhor em lugar nenhum. O meu lugar é medíocre, eu sou apenas mais um, sem qualidade nenhuma, e tudo o que faço bem qualquer um outro poderia fazer melhor ainda. Até pequenas coisas como dormir a tarde me são tiradas como se eu não fosse sequer digno delas. Eu sou um miserável. 

"Tornei-me objeto de opróbrio para todos os inimigos, zombaria dos vizinhos e pavor dos meus amigos. Fogem de mim os que me veem na rua. Fui esquecido dos corações como um morto, fiquei rejeitado como um vaso partido." (Sl 30)

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