segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

De Profundis

"Das profundezas eu clamo a vós, Senhor." (Sl 129)

De onde estou não é possível ver a luz, somente a mais absoluta escuridão. É comum voltar aqui, ao fundo do abismo, tão profundo no oceano da miséria humana que a luz não penetra nas águas negras onde me afogo, e onde me afundo mais e mais, sem que minha mão erguida em súplica consiga alcançar nada da luz divina. Em vão ergo a minha mão, em vão tento encontrar a luz. Não há salvação. Não há esperança. Nenhuma perspectiva de mudança ou melhora, nenhuma luz.

Fora do meu ambiente interior a realidade é bem pouco distinta: não consigo me obrigar a ler e não entendo o pouco que discorre sobre meus olhos. Não consigo dormir, fui rejeitado até por Oneiros. Não há de onde tirar dinheiro, a feiura se estende ao meu redor. Olhar no espelho é minha sentença de morte, e verdadeiramente preferia morrer a ver essa criatura horrenda que me encara com olhos negros como a noite que me envolve. Nenhuma perspectiva de mudança ou melhora, nenhuma luz.

Estou em pecado, e meu pecado está sempre à minha frente, mas nem nele encontro refúgio, é claro que não, como poderia ser assim? 

O Beatiful World é uma realidade apenas na música, o mundo real é só escuridão. It's only love, ela diz, mas não há amor. Nenhuma perspectiva de mudança ou melhora, nenhuma luz.

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