sábado, 12 de março de 2022

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Eu preciso dar um jeito na minha vida, reagir de algum modo, começar a trabalhar, pensar num mestrado ou algo assim. Eu preciso me movimentar, já fiquei parado tempo demais. Olhando pro tempo que passou eu agora vejo o quanto estive paralisado, sem a menor possibilidade de me mover. Agora, no entanto, eu continuo sem saber como fazer isso. Como seguir em frente? Como dar o próximo passo? Como sair desse lamaçal em que me encontro? 

As noites parecem cada vez mais longas, assim como os dias, eu estou criando raízes nessa casa e não é isso que eu queria. Eu preciso sair daqui, o mais rápido possível. Mas eu não consigo, meus pés não me obedecem mais, meu corpo, cada fibra do meu ser protesta contra a vontade natural de viver. Eu já desisti de tudo no sentido mais profundo do meu ser. 

Não tenho mais amigos como antes, não tenho planos, não tenho emprego, não tenho sonhos, não tenho mais nada. O que me tornei? Uma casca vazia com forma humana e nem essa forma é boa. O que eu deveria fazer? 

Onde estou, onde posso me encontrar? Na janela do apartamento da frente, do outro lado da plataforma, onde eu posso estar? Parece que me escondi, tão profundo dentro de mim que nem eu mesmo consigo achar. E então perdi-me, perdi-me por entre florestas escuras, entre o canto das sereias e entre o bater de asas dos anjos, perfeitos como deuses, o mundo todo sendo um espelho onde vejo a bestialidade do meu ser. Onde me escondi? Onde posso me achar? 

Estou perdido, em todos os sentidos possíveis. Amanhã preciso levantar cedo e sair, tenho obrigações a cumprir, mas eu não quero, eu quero dormir, dormir e nunca mais acordar se possível. Meus dias têm se resumido a isto, a uma vontade de imensa de não viver, de não ser, de me desfazer e voltar ao nada. Não queria acordar, não queria me olhar no espelho, não queria, não queria estar tão triste. 

E se acaso não souberes em que lugar me escondi
Não busques aqui e ali, mas se me encontrar quiseres
A mim, buscar-me-ás em ti, buscar-te-ás em mim.
(Santa Tereza D'Ávila)

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