quarta-feira, 16 de março de 2022

O vazio e a falta que o outro faz


 (...) Eu era feliz sobretudo quando, na cama e envolvido no cobertor, sozinho, no mais perfeito isolamento, sem ninguém ao meu redor nem um único som de voz humana, começava a reconstruir a vida à minha maneira. 
(Fiódor Dostoiévski)

Vários minutos olhando pra tela em branco, a mente sem se prender a uma palavra que seja. Experimento a estranha sensação de solidão. Se, por um lado, feliz pela minha própria companhia e pelas histórias de amor que me acompanham, o outro também faz falta. Também sinto o vazio de uma mão a segurar a minha.

Mas aí eu me lembro daquela traição, e então percebo que é melhor ficar sozinho, mesmo que em meu corpo ainda fique a lembrança daqueles que se foram. É uma estranha dualidade.

E eu já nem preciso mais dizer o quanto desacredito do outro por isso. Somos criaturas solitárias, condenadas à solidão da nossa própria mente. O que nos diferencia é apenas o grau de percepção dessa solidão, alguns mais ou menos desesperados por essa situação. 

O que é melhor? Estar sozinho ou permanecer naquela companhia que não é capaz de preencher o vazio que habita meu coração. Da experiência que tive eu não sei dizer qual a resposta correta. Estar sozinho e aprender a apreciar a própria companhia é de um valor inestimável. Mas a presença do outro ainda faz falta. O carinho, o toque, as risadas, tudo isso faz falta. 

Porém eu já aceitei que minha condição é a da solidão. Não levo comigo nada além da desesperança no outro. Desesperança, aliás, que se estende para outras áreas da minha vida. Olhando meu reflexo então, na profundidade dos meus olhos escuros, eu vejo o vazio do abismo que se preenche apenas dessa desesperança e solidão, como névoa impedindo de ver o fundo sendo a minha única certeza a de que o abismo me olha de volta. 

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