sábado, 19 de março de 2022

Sem aporte

Tentei suportar o dia de hoje sem remédios, sem aquela dose diária para pelo menos algumas horas de doce sono, e agora me sinto péssimo. É sempre assim, forçar a encarar a realidade sem a ajuda de uma lente que desfoque os horrores do mundo é sempre uma péssima ideia. O que ficou agora é um profundo descontentamento, uma sensação desagradável de um dia que se perdeu, um dia que forçou sua presença a mim e que me deixou sem ter como reagir, me obrigando a fechar os olhos e suspirar várias vezes, enquanto as horas passavam lentamente. Esse mundo tem a incrível capacidade de me deixar profundissimamente entediado. O que fazer então? Como encarar esse mundo de outro modo senão o de que ele é uma grande chatice e que a vida é apenas uma longa perda de tempo? 

E é em dias assim que me sinto mentalmente vulnerável, sem o aporte psicotrópico do ansiolítico, e me vêm a mente as ideias mais esdrúxulas como me desculpar por algo que me machucou em primeiro lugar, ao que me valho da máxima repetida até a exaustão "nunca peça desculpas por ser quem você é" e que me ajuda a lembrar que eu não devo me humilhar apenas pra ter companhia, mesmo que seja uma sexta à noite e eu esteja me sentindo profundamente sozinho. Ao menos no domingo eu posso encher a cara de Rivotril e não precisar falar ou sentir falta de ninguém. Sim, eu prefiro uma mentira agradavelmente sonolenta do que a verdade desperta do mundo, lamento informar. 

Deve ser por isso que eu continuo me iludindo das mais variadas maneiras possíveis, mergulhando em histórias de amor onde os homens são perfeitos e sempre amam suas mulheres, como se eu pudesse ser amado um dia também. Elas me alimentam, ou melhor dizendo alimentam meu coração com o tipo de mentira que ele precisa para continuar batendo em meio a tanta desilusão. No meio disso tudo surge a pergunta que ouvi numa das séries que acompanho "de tudo que já amei, por que não me amei também?"


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