quinta-feira, 31 de março de 2022

Chuva na Praça

Procrastinando em meio ao caos, descontrolado vagando por universos paralelos, realidades distintas, convicções paradoxais, onde não há entropia, onde os dias são sempre nublados e do céu caem milhares de gotas de diamante que brilham timidamente antes de se chocarem contra o chão e perfumarem o ar. Corro para me abrigar da chuva embaixo de um coreto numa grande praça que ficou deserta. Ali eu observo as folhas ficarem mais verdes enquanto se deixam balançar pelo vento forte da chuva. Do outro lado da praça um garoto se encolhe sozinho com o celular na mão, e eu não sei dizer se o que escorre do seu rosto são lágrimas ou a própria chuva. 

Eu já o observara antes da chuva começar, ele parecia esperar por alguém, impaciente olhando o celular a cada minuto. Mas essa pessoa não veio, e ele ficou ali sozinho, no lugar onde prometera esperar, sem se importar com as gotas pesadas que o atingiam. Ele se abaixou, a cabeça entre os joelhos, com certeza chorando, e ficou assim por um bom tempo. 

Depois de alguns longos minutos, eu distraído com a minha música, notei que outro rapaz de aproximara correndo, tirou o blazer e cobriu o outro com sua roupa, ajudando-a se levantar o levando pra longe dali. Eu os observei até que desaparecessem, e me pergunto se aquele garoto que chegou era a pessoa que ele esperava. Será que ele encontrou sua alma gêmea ou esse garoto, embora não seja seu grande amor seja aquele que realmente se preocupa e se dedica a ele, merecendo então sua atenção e afeto? Mas atenção e afeto podem superar um sentimento verdadeiro e avassalador?

São perguntas difíceis. Quem faz o seu coração bater mais rápido é quem pode tratá-lo melhor? O amor não devia ser a tranquilidade de uma brisa mais do que um vendaval que o deixa sozinho na chuva? Eu espero que ele encontre suas respostas. 

Eu continuei distraído, agora que a chuva passou vendo as gotas escorrerem das folhas grossas, é uma bela visão. Um outro garoto se aproxima do ponto onde o outro estava, parece preocupado, mexe no celular, passa a mão com rapidez no cabelo, olha pra todos os lados, mas ele não está mais lá, encontrou alguém que o acolheu, que enfrentou a frialdade inorgânica da chuva pra se aproximar do outro. Enfurecido ele chuta o ar e sai, cabisbaixo, indo pra direção oposta. 

Espero que os dois primeiros estejam cuidando um do outro, dando o amor e o carinho de que precisam. E quanto ao segundo, que consiga entender melhor suar prioridades, se dedicar mais aquilo que ele quer. 

Talvez seja a hora de eu ir embora, e procurar as minhas prioridades, buscar a quem eu quero dar carinho e cuidado de verdade, ainda que num dia de chuva, sem nada a perder. Há alguém assim pra mim no mundo?

~

Inspirado numa cena da série tailandesa Restart(ed)

Nenhum comentário:

Postar um comentário