sábado, 5 de março de 2022

De um dia qualquer

Foi um sono inquieto no início da manhã, acordei e voltei a dormir várias vezes, meus sonhos super povoados com pessoas com quem já não converso mais, a agitação que se mostrou em mim traindo minha decisão de me afastar de tudo aquilo que não concorde com meus ideais. Apesar da euforia da companhia ainda prefiro a minha solidão consciente. 

Acordei, por fim, com o barulho das pessoas que finalmente acordaram e começaram a se mexer, e eu deveria levantar e estudar um pouco mas a preguiça me mantém preso na cama, gostosamente enrolado aproveitando o calor retido em contraposição o frio gritante que passa pela fresta da janela que eu esqueci de fechar ontem à noite. 

Olho para os livros ao meu lado na cama, e sinto qualquer sombra de animação para lê-los se desfazer como se inesperadamente fosse lançada sobre ela uma luz ofuscante. Minha leitura não tem rendido nos últimos dias, tenho encontrado dificuldade pra me concentrar no que quer que seja. Muito mais fácil deixar a mente vagar livremente, seja nos acordes das cantatas de Bach que tenho ouvido ou me perder no corpo escultural do Wonho que o Youtube tem me sugerido. Parece que o universo conspira contra minha ideia de me tornar alguém inteligente. De fato as curvas do Wonho são mais interessantes que o futuro do pensamento brasileiro. 

Levanto o olhar por um instante e vejo, pouco acima da minha cabeça, uma longa fila de remédios para emagrecer e suplementes vitamínicos, na esperança de que isso me ajude a conquistar um corpo um pouco melhor, ainda resistindo a opção de fazer exercícios regulares por motivos de ter pavor do ambiente de academia e pensando no quanto me deixei levar pelos ideais de beleza da internet, pelos corpos perfeitos e lindos dos atores tailandeses e idols coreanos, em como esse padrão inalcançável imprimiu em mim um ódio profundo e genuíno por cada aspecto do meu corpo. Poderia agora desfiar um rosário de razões para não me sentir assim mas seria tudo mentira, a verdade é que esse ideal é real, e nada além dele por me agradar, e como não há possibilidade de alcançá-lo eu novamente me deprimo. 

Mais uma vez encontro espaço pra analogia da serpente que, rastejando pela terra, só pode sonhar em voar pelos céus como a águia que domina os céus que ela vê com tanta admiração. Talvez os ideais sirvam apenas para inspirar e não para serem alcançados, e apenas isso. 

Preciso encontrar forças para encarar o dia, pois embora esteja em hipomania a minha única vontade é a de dormir o dia todo sem prestar atenção a mais nada a minha volta, mas sobre isso eu já falei várias vezes e tenho tentado não me repetir (muito), mesmo sabendo que volta e meia eu volto aos mesmos assuntos já que minha alma se vê tomada das mesmas dores, não há muito o que fazer sobre isso. 

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