domingo, 6 de março de 2022

Crise da Manhã

Eu acordei cedo, mas não tanto quanto costuma ser no domingo, como não iria pra missa me dei ao luxo de dormir por mais duas horas, assim chegaria lá com tempo suficiente pra formação que iria acontecer após a celebração. Mas quando me levantei logo percebi que algo estava errado, eu senti aquela ressaca forte de novo, não a ressaca normal de quem encheu a cara na noite passada, mas a ressaca de quem voltou a tomar os remédios para depressão que dão um sono anormal e que às vezes me deixam assim, baqueado no outro dia, como quem foi massageado por um trator, a cabeça grande e pesada.

Comi e tomei um banho, mais lento do que o normal, não conseguia manter a mente presa a nada, tudo ainda meio enevoado, odeio essas ressacas matinais que o antidepressivo para bipolar me dá. Finalmente consegui me enfiar numa roupa e sentar no sofá esperando pelo carro. Coloquei uma música baixinha para me animar um pouco, na esperança de que ela me despertasse. 

Quando cheguei lá, as pessoas já saíam da missa, a rua apinhada de gente, e me meti no meio delas procurando um lugar pra me sentar enquanto esperava o início da formação. Encontrei alguns conhecidos, trocamos algumas palavras rápidas pois eu realmente não estava em condições de me dedicar mais do que o necessário em nenhum assunto: precisava guardar o pouco de energia que restava para a formação que ia dar.

Me sentei depois que o movimento diminuiu, e foi aí que começou. A garganta travando, a respiração de repente ofegante. Uma crise de pânico, não de noite, mas pela manhã, e não na minha casa, mas na igreja, cercado de estranhos conhecidos. 

Algumas pessoas se aproximaram, sem perceber o que se passava comigo, eu tentando ao máximo suprimir qualquer sinal do ataque enquanto conversávamos, mas eu não estava mais normal. Minha voz falhava conforme eu forçava a respiração voltar ao normal, vários tons abaixo do meu normal, às vezes arfava e olhava para longe, sem coragem de olhar nos olhos de ninguém. Não queria que ninguém percebesse. Minhas mãos tremiam e eu não conseguia nem mexer no celular direito. 

Entrei em completo desespero e senti meus olhos saltarem e se apertarem conforme a crise piorava. Era a mesma sensação de estar sendo engolido por um oceano escuro, mas dessa vez com muitas pessoas ao meu redor. 

Quando eles finalmente se afastaram, o que durou uma longa meia hora, eu consegui me concentrar mais um pouco, voltando a respirar de modo pesado e desigual, a garganta travando ainda mais e com dificuldade eu consegui chamar um carro pra me trazer de volta pra casa. Uma hora já se passara e eu continuara sentado ali.

A viagem foi mais longa do que o normal, mas pelo menos o vento frio contra o meu rosto me deu uma leve sensação de melhora. Consegui descer e ir direto pro quarto, largando a mochila em cima da cama e me deitando, onde fechando os olhos eu me obriguei a dormir e a ser engolido pela escuridão, adormecendo enquanto a crise passava, a formação já distante demais a essa hora. A escuridão me envolvendo e me reconfortando num doce abraço. Finalmente a crise terminava. 

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