quinta-feira, 24 de março de 2022

O Retorno da Solidão

 "O silêncio desses espaços infinitos me apavora." (Blaise Pascal)

De repente, mesmo num dia luminoso, meu coração se encheu de trevas, e eu fui lançado no mais absoluto silêncio, num abismo aterrador que abriu sua boca para me engolir e cá, no fundo de suas entranhas, eu sinto apenas o desespero e a fraqueza provocada por seu sangue venenoso. Meu coração velava, preparava-se para esse momento, momento em que seria devorado, e agora cá estou, na totalidade da minha solidão, buscando conforto como quem em plena escuridão busca por uma luz que o guie.

Sinto-me profundissimamente sozinho, e a imagem daqueles que já foram minha companhia pulula em minha mente, bem como o sentimento de traição subsequente. Voltar não é uma opção. Mas eu queria um abraço, um daqueles bem apertados, que pudesse juntar novamente todos os fragmentos do meu coração destroçado. E isso que sinto é a ânsia de amar, a ânsia de um coração que já não sabe mais o que o amor, que perdeu essa coisa valiosa num naufrágio no grandioso oceano. Mesmo que uma parte do meu eu deseje voltar a amar um dia ainda sinto muito medo por todas as feridas que ganhei por ter amado demais nessa vida. Bom mesmo seria fechar-me em mim mesmo e nunca mais sentir nada por ninguém. 

Mas ainda sinto essa inflamação no meu peito, ardente, querendo dar-se sem cessar e entregar-se aos amplexos do amado até que nele me transfigure, até sentir o bater do coração do outro no mesmo compasso que o meu. Por enquanto permaneço aqui, em completa escuridão, esperando que os compassos me preencham ou pelo menos me distraiam dessa condenação, que embora em alguns momentos seja de um doce alívio, em outros é da mais terrível tortura, culminando em verdadeiros delírios de onipotência onde minha existência é senão completamente diversa, num mundo utopicamente constituído para que não existam essas solidões, que não haja a dor da estender a mão e pegar somente o ar, sem um peito humano a tocar, somente o infinito abismo a me encarar. 

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