quinta-feira, 6 de julho de 2023

Farrapo

“A maioria dos homens persegue o prazer com tanta impetuosidade que passa por ele sem vê-lo.” (Soren Kierkegaard)

Precisei arrumar um momento pra tentar escrever, mesmo sabendo que nesse momento a inspiração já se foi. Isso porque eu tenho um dia bem cheio, em contraste com a semana passada que foi bem tranquila, e enquanto isso a minha mente está ainda mais e mais cheia. E nesses dias eu tenho me odiado, cultivado dentro de mim uma raiva pelas coisas mais puras, algo como uma revolta demoníaca. Eu não consigo parar de pensar em como ele escolheu aquela bela visão ao invés de mim, e em como todos escolheram outra coisa além de mim, e como eu sou sempre tão facilmente negligenciável. Seria de se esperar que eu me valorizasse então, mas não, é justo o contrário, eu me odeio cada vez mais porque, se todos me deixam desse jeito, até mesmo por uma bela visão, eu devo mesmo ser um criatura horrível de se olhar. 

Meu olhar está frio e distante, já comentaram isso, enquanto eu estou apenas tentando não pensar muito em nada, e aparentemente isso incomoda os outros. Mas é isso, eu sou menos do que uma visão mental, menos do que um aceno do espírito, eu sou um nada. E tudo que faço vale exatamente isso: nada.

E me odeio porque continuo me chateando com o que dizem quando deveria apenas ignorar, quando deveria não me deixar afetar, nem por palavras e nem pelas impressões que eu certamente capto de modo errado, pois todas estão contaminadas com esses meus sonhos idiotas, com minha expectativa e com essa carência horrível que, como um câncer, vai me matando pouco a pouco. 

Eu já deveria ter aprendido. Quantas vezes mais eu vou me deixar machucar pelos outros? Até quando? Até quando? Até quando eu vou viver querendo aprovação, vivendo de compaixão, me alimentando de um amor que não existe?

E nem sequer quero falar sobre isso, explicar o que tem acontecido, porque isso me machucou tanto, tem sido tão dolorido, que eu só quero esquecer... Esquecer que eu me apaixonei de novo e que de novo eu não signifiquei nada, fui como um átomo apenas que se levantou, uma folha que rodopiou ao vento ou um farrapo...

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