sexta-feira, 7 de julho de 2023

O seu melhor

Ele está fazendo o seu melhor, mas sabe quando parece que nunca é o bastante? A princípio a maior parte dos seus colegas empurravam pra ele os trabalhos mais incômodos, e ele fazia mesmo que não fosse sua obrigação, e todos levavam o crédito pelo bom desempenho mas, quando algo dava errado, ele era responsabilizado. E isso o afetou. Poxa, pouco tempo depois de sua formatura, no primeiro emprego numa grande empresa ele já se sente cansado assim. 

O namorado sumiu sem deixar rastros, ele precisa se virar sozinho, as coisas não estavam indo nada bem... E agora esse chefe novo, o cara se aproximou como se ele fosse um querido mas logo se revelou como um tipo de carrasco, cobrando dele mais do que a todos os outros. E logo agora... Esse chefe percebeu essa coisa com os funcionários e, ao invés de ajudar, só cobrou mais ainda que ele tomasse uma atitude. Mas que atitude? Se quando ele toma uma atitude é culpado de descontrole emocional? Como ele consegue então ser firme mas sem parecer emocional demais? Parece que nada nunca está certo...

E ele finalmente conseguiu colocar um basta nisso! Será que agora o chefe finalmente vai reconhecer o seu esforço? Os colegas vão parar de encher, esse projeto grande pode ajudar bastante. 

Mas parece que nem isso foi o suficiente... Nunca é suficiente? Agora são as pessoas de outras empresas que questionam sua eficiência. E de novo as lágrimas brotam sem que ele possa controlar, que droga! Pra piorar ainda por cima o ex tinha que aparecer, e parece decidido a conquistar de novo, era só o que faltava...

E ele parece querer se aproximar mais e mais, um ex que desapareceu não deveria continuar sumido? Esse tipo de aproximação só torna tudo confuso, e pelo visto todos parecem querer confundir. Até o chefe, que se aproxima e se afasta. Aparenta criar confiança e logo torna a cobrar, o que está acontecendo, parece que a gentileza toma conta dele e depois vem descontando raiva em seguida. 

Quando finalmente as coisas se resolvem com o ex, com ele aceitando que não podem mais ficarem juntos, com a distância se consolidando como sendo o melhor para ambos, com isso parece que o chefe se tornou ainda mais afetivo. Mensagens e abraços de encorajamento, convites para jantares, pedidos de opinião, será que finalmente eles vão se entender?

Na cabeça do jovem tudo ainda pesa demais. A vida sozinho, o ex que se foi, a conturbada relação com o chefe, o trabalho... Essa pressão parece que vai entrar em ebulição a qualquer momento. Ele está prestes a explodir quando vem a revelação de que seu chefe realmente gosta dele. Sua reação? Nada disso faz sentido, como pode um homem bonito e bem sucedido gostar dele, que tantas vezes foi chamado atenção, que se mostrou fraco, que foi manipulado pelos colegas, que explodiu no meio de uma reunião... É melhor que eles não se aproximem, que o chefe não mande mensagens se não for a trabalho, que eles não saiam mais para jantar, que ele não empreste seu casaco na frente de todos os outros. Como pode? Não faz sentido. Mas faz sentido pro outro, mesmo que aparentemente seja tarde demais, ele finalmente explodiu, e as lágrimas que á eram difíceis de conter antes agora jorram torrencialmente, ao toque caloroso dos pais, ao conforto que eles proporcionam, e brotam com cada vez mais força, com a voz embargada, todas as dores, todas as dúvidas, todas elas banhando a face...

Ele não imagina que, há algum lugar dali, o chefe também chora, copiosamente, por saber que ele não o quer como algo mais que um colega de trabalho. E chora sem se conter, chora como ninguém imaginaria um homem como ele chorar daquele jeito, porque ele não consegue parar de pensar no outro, pensa nele o dia inteiro...

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