terça-feira, 4 de julho de 2023

O ordinário

Eu sou um grande incompetente. E sim me conto entre o grande número dos medíocres! Algum problema? Provavelmente você que lê isso também o é, então um brinde a nossa insignificância! Pelo menos a alegria não é necessariamente medíocre, que Dionísio me ajude!

Demonstro minha incompetência e mediocridade em tudo o que faço e, talvez, só seja diferente da maioria na consciência dessa mediocridade, o que em nada me faz mais feliz ou melhor, afinal se os outros medíocres conseguem ao menos serem felizes nos seus cotidianos eu nem mesmo consigo fazer isso sem sentir uma enorme repulsa por mim e por cada aspecto de quem sou. 

É uma noite chuvosa e fria, belíssima obra de Seth, mas me subiu uma ânsia autodestrutiva quase incontrolável. Eu queria muito encher a cara até me esquecer do meu nome, ou tomar remédio e dormir por três dias, ou sair correndo nesses 10° sem roupa, e correr até o coração estourar, filho não reclamado do Érebo e da Noite. Mas como bom moço que sou apenas coloquei um pijama mais quente e me sentei pra escrever, pensando justamente em tudo o que faço.

E percebi, sem nenhuma dificuldade, que tudo que faço é bem ruim, ruim mesmo. Eu escrevo sempre as mesmas lamúrias, não sei cozinhar um maldito pinhão, minhas fotos ficam escuras demais, bebo o mesmo vinho barato e me apaixono sempre pelos mesmos homens delicados e idiotas que me trocam pela primeira vagabunda que aparece. E se ela é uma vagabunda é, em algo, mais interessante do que eu que sou, pelo visto, uma vagabunda inferior. 

Hoje fiquei sabendo que um deles ficou noivo, de uma cretina que eu acolhi na minha casa e chamei de "melhor amiga". E qual foi o pagamento? Nem preciso comentar. Uma piranha barata sem nada a oferecer além de uma boceta rosada. E ele caiu, é claro. Eles sempre caem. Desgraçada! E ele um idiota manipulável do caralho. Babaca! Espero que sejam bem felizes do outro lado do país. Espero mesmo e, sabe o que mais? Eu a acolheria de novo se fosse preciso, mas não voltaria a chamar nem mesmo de amiga.

Certa vez o velho Buck disse que era assombrado pelas coisas ordinárias que ele via todos fazerem com tanta facilidade. Eu entendo esse pânico do cotidiano que, pra ele, é quase uma úlcera. Eu não me incomodo com o ordinário mas me incomodo com a falta do extraordinário, por isso busco encontrar os meus encantos em coisas que passam despercebidas pela maioria. O pequeno trecho de um música onde um violino lamenta solitariamente, a chuva fininha caindo e no horizonte de Joinville o morro coberto da fria névoa matutina me lembrando aquelas belas fotos do Monte Fuji, os sorrisos que uma senhora engraçada trouxe a todos no ônibus logo pela cedinho... Essas coisas que passam pelos olhares me soam extraordinárias, e talvez eu esteja apenas achando o extraordinário no ordinário. Outras pessoas passam a vida sem conseguir ver nada de belo nas suas rotinas, por essas eu rezo e peço misericórdia.

Eu continuo amando o longe e a miragem. Não me iludo com ideias de grandiosidade, apenas abraço então a mediocridade mas também a consciência dessa existência miserável. E o mais que faço não vale nada. Eu sou só um grande incompetente, como tantos outros. 

Um comentário:

  1. Queridão ,
    Não xingue as mulheres por poderem expressar seus sentimentos em seu objeto amado.
    Chega quase a ser mimadez irritar-se com a expressão do livre arbítrio alheio.
    Reveja os papéis, quem é o culpado e a puta ( e se por acaso tem algum papel, pois se sou uma boa intrometida, talvez eles nem soubessem desse amor fomentado por você ).
    Um adendo que o errado nunca é o homem por deixar-se cair em tentação, não é ele o desgraçado que não se importou com seu coração. A culpada é sempre a mulher ,que só queria amar seu amor.
    Enxergue com mais lucidez, veja se faz sentido seus pensamentos e dizeres.

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