terça-feira, 11 de julho de 2023

Grande coisa

Tentei várias vezes, e não gostei do resultado. Tornei a olhar tantos outros que conseguiram o resultado que eu queria, aquela aparência de intimidade revelada mas não destruída, aquela tranquilidade, aquele fechamento em si, calmo, tranquilo e sereno como aquelas pequenas ondas que se quebram, continuamente, sem se importar com nada mais e que, por isso mesmo, são tão belas. Mas eu não consegui, não consegui me sentir bem com o formato do meu corpo e nem com a minha tentativa de mostrar sensualidade, foi patético. Vamos apagar tudo, fingir que tudo não aconteceu e voltar a dormir. 

Brigariam comigo se eu dissesse que a beleza é difícil de alcançar, mas sinto muito, a beleza que eu queria ver parece bem difícil de encontrar. Busca infundada? Ideal infundado? Então por qual razão tantos alcançam? Todos eles conseguem ver algo que eu não vejo? Onde estou errando? É o ângulo, a luz, exposição, abertura da lente, o que devo melhorar? É o meu corpo, minha casa, minhas roupas? Talvez o erro mesmo seja que eu não consigo ver em mim e no que eu faço nada de belo como os outros conseguem fazer. 

Mas eu quero continuar em busca do que acho belo, seja uma sensualidade incompreendida ou uma melancolia cinza. E eu vi que as pessoas não gostarem nada disso, mas eu quero continuar. 

Okay, vamos deixar a coisa menos abstrata: eu gosto muito de seguir alguns perfis que compartilham fotos com uma estética específica. Geralmente são pessoas em roupas íntimas, ou em momentos de intimidade, em imagens distorcidas, borradas ou simplesmente com o foco em pontos estratégicos, que tornam a coisa artística e sensual ao mesmo tempo. Claro, homens bonitos aparecem sem camisa ou cobrindo as partes com uma toalha ou coisa nesse tipo, postam manchas no pescoço, roupas íntimas no chão ou mãos entrelaçadas no que, subentende-se ser um ato sexual. É esse tipo de estética que venho tentando reproduzir e que venho encontrando resistência: primeiramente pela dificuldade de repetir sozinho o que obviamente conta com uma certa produção e, depois, a resistência de conseguir ver em mim a beleza disso. Por fim tem ainda a resistência daqueles que não entendem isso. Pelo menos a esses últimos eu já tenho solução, não quero me importar com eles. Quero continuar buscando o que acho bonito, ainda que fique sozinho fazendo isso. 

E é engraçado como algumas reações são diversas. Ao passo que ninguém gostou, porque todos passaram direto, alguns outros comentaram e apoiaram, entendendo não só o que eu quis fazer mas também a dificuldade que foi pra mim em aceitar fazer. Por isso prevejo que essa é mais uma escolha que vai me deixar mais e mais sozinho, ao passo que, de algum modo, estarei sendo eu mesmo um pouco mais, não porque estava escondendo isso, mas porque agora eu tenho coragem de experimentar um pouco mais. Eu só quero poder encontrar o que me faz bem, o que me deixa bonito, entre o querer ser visto, ser notado e o querer continuar como um célebre desconhecido. Não é preciso que eu faça disso grande coisa. Eu não sou grande coisa.

Essa resolução não é nenhum novo paradigma estético, longe disso, estou bem pouco preocupado com isso, ao mesmo tempo que admito que há uma certa ansiedade em ser aceito como aqueles que compartilham esse conteúdo, que usam de imagens, ao mesmo tempo, sensuais e intimistas, como já disse. Talvez a proposta ainda não esteja clara nem mesmo pra mim, afinal eu achei essas minhas palavras até bem confusas. De todo modo elas refletem, assim como as imagens expressam, essa dualidade, do que se é e do que se pretende ser, do que se deseja, do que se acha belo, do que se converte no belo pela proximidade, pela própria criação, pela descoberta...

4 comentários:

  1. ''afinal eu achei essas minhas palavras até bem confusas''.
    Eu penso, pois não tenho nada muito palpável a partir de fragmentos diversos, que você vive num momento incógnito e confuso. Tem o amor não correspondido, a parcial frustração com a baixa valorização das profissões de humanas, a questão familiar e das amizades. Mas você sempre viveu num turbilhão, certo?

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    1. Sempre, na verdade essa é a sensação, o que é bem incômodo quando me encontro num episódio depressivo, meio atônito olhando as coisas despencarem. Mas seguimos, caminhando e cantando (imagine aqueles vídeos de um homem sorrindo sendo carregado com camisa de força enquanto toca Edith Piaf ao fundo)

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  2. A única diferença entre as épocas, é a maneira que você escolheu lidar (ou não) com as coisas.
    Eu precisaria saber quando começou a gostar disso (antes ou depois de ter entendimento do amor não correspondido pelo gajo da igreja) , e várias investigações demoradas demais para descobrir uma causa palpável para suas neuroses e problemas. Mas, é claro que cabe a reflexão aqui.
    Você tira elas por diversão? Se sim, deveria ter prazer apenas por praticar a atividade, e não desprazer por não ter elogios ou outros.
    Você tira elas por atenção... sexual? Se sim, você acredita que a atenção de estranhos da internet (olha quem fala) é válida? Ou você vive num limbo amoroso onde qualquer frangalho já é válido.
    Por que tudo que faz, é preciso ter algum defeito? Seja pela iluminação, posição etc. Por que é tão difícil aceitar o que é? (essa é um p. retórica)
    E, pra finalizar ''Talvez a proposta ainda não esteja clara nem mesmo pra mim'' . O palpite que dou: Pois essa é a forma que você achou para lidar com as coisas atualmente. Pois é o que mais diz respeito aos problemas que você vem passando ( frustação amorosa, sexual etc arrrrrrghhhh).
    E, pelo amor de Deus, Gabriel. Enxergue o valor que tem!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! caso não enxergue, as manifestações disto SEMPRE estarão presentes no seu dia a dia.

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    1. Afirmativa para todas as alternativas kkkkk Mas sim, por um lado busco aprovação, vivendo de migalhas, e tenho pensado muito nisso, porque ao mesmo tempo que busco me frustro, por motivos óbvios.

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