terça-feira, 25 de julho de 2023

Uma resposta talvez vaga demais

Acho que pela primeira vez, cara leitora e comentarista Anônima, vou escrever exclusivamente para responder alguém aqui. Geralmente meus textos são impressões diretas ou respostas um pouco mais elaboradas que dou aos meus amigos (sim, eles aguentam eu mandando textos enormes no WhatsApp porque acredito firmemente que a facilidade do meio de comunicação não deve ser igual a superficialidade da mensagem mas exatamente permitir longas e tediosas reflexões como essa que eu faço nesse exato momento). 

Em vários dias eu uso a definição do vago, e percebo que ela não tem, para mim e aparentemente nem para você, o sentido negativo que, normalmente, dão. Dias vagos são assim, até comuns para mim, em que percebo também vida em detalhes que passam despercebidos. Vejo que muitos temem o vazio e fogem dele a todo custo, eu gosto de ficar sozinho muito embora odeie me sentir vazio e, por favor, não diga que isso é mais um lugar comum porque muito embora seja uma expressão comum a experiência que me faz repeti-la é profundamente pessoal. Se você visitou o instituto em algum sábado provavelmente ouviu vindo da minha sala alguma música alta que certamente não combina com a paisagem de carneirinhos dali, mas combina com meu estado de espírito. Ademais, se tocava alguma coisa como música coreana ou chinesa não era porque eu temia o vazio, não, mas porque justamente tentava abafar o horror que havia em mim, em momentos assim eu desejo com força voltar ao olhar vago. Obrigado por compartilhar sua visão comigo.

Também gosto de como as coisas parecem mais vivas. Me incomodava profundamente a aura certinha daquele lugar enquanto uma certa pessoa, muitíssimo grosseira, administrava ali com mãos de ferro. Agora, com o "poder" dividido entre nós, reclamo para mim certo desleixo da equipe em tornar aquele lugar tanto mais vivo conforme se adapta a nós, e não o contrário, quando nós é que tínhamos que nos adaptar a uma concepção arbitrária de ordem. Talvez tenha em mim um lado mais anarquista do que costumam ver, ou talvez seja minha revolta em saber que Rivotril está no fim e que por essas bandas a fiscalização é imensamente pesada para eu conseguir mais e isso tem me deprimido bastante e me deixado igualmente furioso, ao sentir a nada gentil mão invisível do Estado enfiada no meu... 

Enfim, digressões anárquicas à parte, não acho que o JM dará as caras por aqui tão cedo, por razões de saúde, já que ao que nos consta o olhar vago de que falamos tem sido tudo que ele dá aos outros e, possivelmente, a si mesmo, já há algum tempo, assim como outras questões mais complexas que eu só poderia dizer depois de uma boa garrafa de vinho ou durante um depoimento judicial. Pena, queria falar um pouco mais com esse velho com mania de pintar coisas completamente deslocadas da realidade e que sim, também causa em mim estranheza e me encanta justamente pela dicotomia de parecer deslocado e perfeitamente confortável sendo assim. 

Eu, por outro lado, continuo desconfortável na maior parte das vezes, cansado demais para me arrumar pro Festival de Dança amanhã, sem ter feito a barba ou as unhas e provavelmente descartando a possibilidade de encontrar um dançarino introvertido ou um empresário milionário que viveria comigo um conto de amor de alta temporada turística. O cansaço me chama de volta para a realidade mas, entre a artificialidade e a brutalidade eu acho que prefiro ir dormir mais e continuar essa história nos meus sonhos. 

PS.: O gajo em questão dos últimos comentários ficou ofendido com a possibilidade de você imaginá-lo como um socialista penoso. A única coisa que o faz penar realmente são as equações químicas e o futuro concurso para perito criminal. Como professor dele eu não permiti que fosse socialista mas queria que penasse de amores por mim também. Pena. 

2 comentários:

  1. Hahaha, sendo de Goiás é evidente que vá achar ruim mesmo.
    As notícias do JM pesaram-me a cabeça. Frequento o JM desde 2017, porém sempre acabo me desencontrando com ele. Talvez o único irmão Machado que eu vou ter conhecido é o Edson.
    Nunca reparei em música alguma na casa do JM, normalmente eu faço um estardalhaço no chão somente para ouvir o barulho de assoalho-antigo-tombado (pergunta: essa pintura da casa do JM é a correta?) , acabo nem prestando muita atenção em outra coisa. (Já percebeu que a Giostri só pintou a frente de vermelho? Olhe pela janela e veja. Que gente mão de vaca!)
    Gostei da alcunha de comentarista anônima pois nunca fiz muita questão de esconder a identidade super secreta. Acho que é o costume de ser discreta, reservada e séria demais o tempo todo, o que acaba por afastar o olhar. (adendo engraçado: somente prestei atenção em você porque na primeira vez que fui depois de um tempão sem ir, você ficou me seguindo como se eu fosse enfiar um quadro de 2m dentro da bolsa, ou algo assim. obs: eu sei que vocês fazem isso para não tocar nos quadros etc - ou será que alguém já tentou roubar algum ratinho do terno?)

    ps.: Com seu espírito anarquista lembrei do mesmo gajo que era fã do Olavo de Carvalho. Além de ser fã dele, era seguidor de uma coisa chamada ‘anarquismo cristão’. Não sei que diabo é isto. (na verdade eu tenho ideia, mas eu prefiro não me aprofundar sobre)

    ps2: Cada dia sem falar de Nietzsche, Lacan ou Foucault é uma vitória contra o dilema de Fausto. As vezes a ignorância realmente salva. (mas com ressalvas! ressalto que não estou ficando burra, apenas cansada de uma batalha que nunca vou vencer ou acabar.)

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    1. Aquela cor, assim como o cinza artificial do resto do lugar, foi parte de um projeto que buscava neutralidade pra ressaltar as cores do JM, mas essa gestão já passou e tô trabalhando numa mudança agora, pretendo colocar a cor que era quando a mãe deles morava aqui...

      Essa prática de ficar atrás é um incômodo necessário, o própri JM pediu pra não ter uma fita de segurança separando as obras das pessoas, então a gente precisa ficar de olho. Atualmente eu comento com as pessoas pequenos detalhes que elas podem perceber nas obras, como um pelinho do pincel preso na tinta ou rabiscos a lápis que não ficaram na composição final e mostram a obra mais viva do que só a visão chapada.

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